
O Ministério Público Eleitoral da 039ª Zona de Vitória da Conquista determinou o arquivamento do inquérito policial que investigava a vereadora eleita Dirleia Santos Meira, conhecida como “Leia de Quinho”, por suspeitas de crimes eleitorais nas eleições de 2024. A decisão foi assinada pelo promotor Marcelo Pinto de Araújo no dia nessa quarta-feira (16), com base na ausência de provas concretas que sustentassem as denúncias apresentadas de forma anônima.
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O inquérito teve origem em uma denúncia anônima recebida pelo canal “Comunica PF”, da Polícia Federal, e apontava três principais suspeitas: compra de votos, candidaturas fictícias para desvio de recursos do fundo eleitoral e transferências fraudulentas de domicílio eleitoral de eleitores oriundos do município de Belo Campo para Vitória da Conquista.
Leia de Quinho foi eleita em 2024 com 4.272 votos, sendo a segunda vereadora mais votada de Vitória da Conquista naquele pleito, o que evidenciou seu destaque nas urnas e forte articulação política local.
De acordo com o documento que o Blog do Sena teve acesso, durante a investigação, a Polícia Federal requisitou dados ao Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA), ouviu diversas candidatas do PSD que disputaram vaga à Câmara Municipal e analisou as prestações de contas eleitorais das mesmas.
No entanto, nenhum dos depoimentos colhidos confirmou as acusações contra Leia de Quinho. Todas as candidatas negaram ter repassado recursos à vereadora eleita ou participado de qualquer esquema fraudulento. Elas afirmaram ter usado os valores recebidos do partido exclusivamente em suas campanhas, apresentando inclusive comprovantes de gastos.
A própria investigada, em depoimento, negou qualquer envolvimento em práticas ilícitas, destacando que sua campanha foi financiada integralmente com recursos do fundo partidário, teve as contas aprovadas pela Justiça Eleitoral e que sua vitória foi fruto de um trabalho de base realizado nos bairros da cidade e na zona rural. Leia afirmou ainda que autorizou o acesso da PF aos seus dados fiscais e bancários de 2024, mas recusou o acesso a dados telefônicos por questões de privacidade.
A investigação também não encontrou evidências de que tenha ocorrido a alegada “transferência em massa” de eleitores de Belo Campo para Vitória da Conquista. Segundo o TRE-BA, apenas cerca de 100 eleitores mudaram seu domicílio eleitoral, número considerado irrelevante diante do eleitorado total dos dois municípios.
Sobre a suposta compra de votos, não foi identificado nenhum eleitor que confirmasse ter recebido dinheiro ou vantagens em troca de sufrágio. As imagens de reuniões e veículos adesivados, apontadas como indícios, foram consideradas insuficientes para caracterizar delito.
Em parecer conclusivo, o Ministério Público ressaltou que, conforme entendimento pacificado do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a cassação de mandato ou imputação de crimes eleitorais exige provas robustas e inequívocas, o que não foi verificado no presente caso.
Diante da ausência de “provas minimamente concretas”, como consta no relatório da Polícia Federal, o promotor Marcelo Pinto de Araújo promoveu o arquivamento do inquérito. A decisão foi tomada com base na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que exige a comunicação do arquivamento ao Judiciário e aos investigados.
Com isso, encerra-se um capítulo delicado da política local, que envolveu o nome da vereadora Leia de Quinho e mobilizou o debate sobre transparência e uso de recursos públicos em campanhas eleitorais. A parlamentar permanece no cargo, com mandato validado e sem pendências judiciais no âmbito eleitoral.
Leia de Quinho é esposa de José Henrique Silva Tigre, conhecido como Quinho, ex-prefeito de Belo Campo e figura de destaque na política baiana. Durante seu mandato, Quinho também presidiu a União dos Municípios da Bahia (UPB). Nas eleições de 2024, Quinho demonstrou sua influência política ao eleger seu sucessor em Belo Campo com uma expressiva votação de 72% dos votos válidos. Paralelamente, sua esposa, Leia de Quinho, consolidou seu nome em Vitória da Conquista como a segunda vereadora mais votada da cidade.
Com o término de seu mandato como prefeito e da presidência da UPB em março de 2025, Quinho anunciou sua pré-candidatura à Assembleia Legislativa da Bahia para as eleições de 2026, representando as regiões sul, centro-sul e sudoeste do estado. Além disso, ele expressou interesse em disputar a prefeitura de Vitória da Conquista em 2028, ampliando seu raio de atuação política no interior baiano.