Acostumado a noticiar coisas boas e ruins na Rádio Educadora 100,7 FM, em Caetité, o radialista Pedro Silva, pai do estudante Klausten Lima Ferreira, de 30 anos, uma das quatros vítimas fatais do acidente de quarta-feira (2), na BR-030, foi pego de surpresa ao receber a informação da batida em seu Whastapp. Outras 13 pessoas ficaram feridas no choque entre um ônibus universitário e um caminhão.
Preocupado com a notícia, rapidamente Pedro tentou ligar para o filho, mas no trecho onde ocorreu o acidente não havia sinal. Então, automaticamente, o instinto de pai falou mais alto que a necessidade de checagem da informação e ele resolveu verificar pessoalmente se o ônibus que transportava seu filho era o envolvido no acidente.
Foi aí que Pedro decidiu tirar o carro da garagem e, junto com a esposa, ir até o local do acidente. Segundo o radialista, três ônibus da empresa Lívia Tur faziam o roteiro com os estudantes universitários de Caetité para Guanambi.
“Quando eu soube do acidente em um grupo do Whatsapp, vi que a empresa de ônibus era a mesma que fazia o roteiro dos estudantes e meu filho poderia estar nele. Vi a notícia, ainda com poucos detalhes, tive o instinto de pai, tirei o carro da garagem e fui lá para conferir”, contou o radialista, ainda abalado e sem conseguir detalhar o momento de tristeza que viveu na última noite.
Ao CORREIO, o radialista contou que, ao se aproximar do veículo, ainda sem saber o motivo do acidente, se deparou com uma imagem que afirmou que jamais irá esquecer: seu filho morto enquanto voltava para casa.
“Não sei ainda se foi por falta de freio ou por imprudência do motorista do caminhão. Quando me aproximei, o primeiro corpo que vi foi o dele, reconheci na hora. Me deparar com a cena de meu filho morto no local, não dá para traduzir em palavras, estamos arrasados”, afirmou.
Klausten morava com os pais e a irmã, a recém-formada em direito Julia Caroline, com quem o rapaz há poucos dias celebrou por conta da aprovação no exame da Ordem dos Advogados da Brasil (OAB-BA).
Ele, que era formado em administração, e fazia o primeiro semestre do curso de engenharia civil, sua segunda graduação, trabalhava como bioconsultor ambiental na cidade natal. Para o pai do rapaz, a segunda graduação era um sonho que ele tinha desde pequeno.
“Estávamos comemorando há alguns dias o fato dela [irmã] ter sido aprovada no exame da OAB, todos celebramos essa conquista dela juntos. O sonho do Klausten era fazer esse curso de engenharia”, afirmou.
Pedro fez questão de lembrar que Klausten era uma pessoa de bem, tinha bastante amigos, e era bem querido na cidade, além de demonstrar tristeza pelo fato do acidente envolver tantos estudantes da cidade.
“Ele era muito gente boa, bem relacionado com as pessoas. Foi um acidente que gerou muita comoção pelo fato da quantidade de vítimas. A cidade está de luto por todos os estudantes. É uma dor que somente quem vivencia pode tentar descrever”, afirmou.
Depois de ver o corpo do filho no local do acidente, o radialista confessou que não conseguiu mais dirigir seu carro até em casa e cedeu seu veículo para que um amigo da família conduzisse os parentes de volta para casa.
O enterro do estudante será realizado nesta quinta-feira (3), no Cemitério de Municipal de Caetité. O horário do sepultamento não foi informado pela família.
Sobrevivente
O CORREIO também conseguiu contato com um dos estudantes sobreviventes do acidente. Sem se identificar, ainda em estado de choque, um aluno do curso de medicina veterinária relatou o momento de tensão que viveu durante o impacto, que acabou arremessando vários passageiros para a frente.
“Fomos arremessados para frente, os cocos do caminhão entraram no ônibus e atingiram algumas pessoas. Havia muita água de coco dentro do ônibus. Eu pensei que fosse sangue porque estava muito escuro não dava para ver nada”, lembrou.
Após o desespero, ainda sob muitos gritos, os estudantes começaram a quebrar as janelas do veículo para tentar escapar. “Quebramos as janelas e o pessoal começou a pular para se salvar. Minha amiga pedia para eu tirar os cacos de vidro do braço dela. As pessoas choravam e gritavam muito”, completou o estudante.
Com supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro