Todas as candidaturas direta ou indiretamente vinculadas ao governo municipal fracassaram nas urnas no último domingo. E não foi fracasso apenas por que não conseguiram se eleger: o desempenho eleitoral da maioria ficou aquém até mesmo das apostas mais pessimistas. No plano estadual, o candidato João Santana sequer alcançou 1% dos votos e, nas eleições nacionais, Henrique Meirelles, apesar de investir maciçamente na campanha, teve um resultado pífio. No geral, o MDB saiu bastante fragilizado das urnas.
A presidente do diretório do partido em Vitória da Conquista, Geanne Oliveira – secretária municipal de Governo –, concedeu entrevista ao Blog do Fábio Sena e que o Blog do Sena reproduz, na qual avalia o resultado das urnas com uma série de críticas ao que chama de “visão obtusa de quem comanda o partido”, com dirigentes medebistas movendo-se “por razões nada republicanas”. Segundo ela, o partido não se abriu para o novo e a expressão social desta carência de renovação na identidade veio com o fracasso eleitoral retumbante.
Na íntegra, a entrevista:
Blog do Fábio Sena: Geanne Oliveira, o resultado do primeiro turno mostrou um desempenho eleitoral pífio do candidato do MDB, Henrique Meireles, além de razoável baixa no Congresso Nacional. O que justifica esta perda de força do partido no plano nacional?
Geanne Oliveira: A resposta dura das urnas remete os partidos tradicionais como o MDB à necessidade de uma autocrítica. O MDB sempre foi um grande guarda-chuva que abrigou a democracia neste país. O fato de ser o país de maior capilaridade abriga também uma grande diversidade de perfis políticos. Sempre foi o partido a quem recorreram para resolver as grandes questões. O controle do partido por alguns figurões que se negaram a entender o tempo novo o desidratou. Mas continua sendo uma força política.
Blog do Fábio Sena: Na Bahia não foi diferente: João Santana não conseguiu alcançar 1% do eleitorado. O que explica este péssimo desempenho?
Geanne Oliveira: A visão obtusa de quem comanda o partido no Estado, movido por razões nada republicanas. As urnas foram implacáveis.
Blog do Fábio Sena: O resultado das urnas, neste caso, pode significar uma revisão da burocracia do partido, com uma nova visão e práticas republicanas?
Geanne Oliveira: Espero que a derrota na urna sirva de reflexão. Nem sempre perder uma eleição é algo ruim. Serve para corrigir o curso das coisas. Reavaliar posições, mudar o curso da história. Assim nem sempre perder é perder, para os que humildemente aceitam reavaliar posições. No tempo novo não caberá mais as velhas práticas. Então, ou muda ou muda. Não se pode ser mais tolerante com os velhos hábitos do toma lá dá cá da velha política.
Blog do Fábio Sena: Em Vitória da Conquista, as candidaturas com maior ou menor grau de relação com o governo municipal também fracassaram nas urnas. Como membro do governo e presidente do partido, você avalia aí algum sinal de avaliação da gestão?
Geanne Oliveira: A gestão é defensável, não está conseguindo acessar as pessoas e demonstrar o quanto tem realizado e é preciso reavaliar. Apesar de que vejo este assunto por vários ângulos e tenho uma leitura histórica. Veja que o ex-prefeito Guilherme colocava cabresto nos secretários e usava a máquina impiedosamente em eleições anteriores, o mesmo não conseguiu eleger seus preferidos, o professor Cori, por exemplo. Quando apoiou Marcelino Galo e Valmir Assunção conseguiu votação pífia pra eles. Nossos secretários, por opção do prefeito de não impor candidaturas a ninguém, ficaram espalhados com vários candidatos. Outros eventos em nível estadual acabaram por fragilizar a oposição. Mas claro que o recado das urnas deve provocar uma renovação no governo, o que me parece fundamental.
Blog do Fábio Sena: Você alerta para uma necessidade de reavaliação política do governo e diz que a gestão do prefeito Herzem Gusmão é defensável. Qual o perfil a ser adotado para os últimos dois anos?
Geanne Oliveira: Creio que passado o segundo turno e acalmado o ambiente político vamos sim precisar reavaliar. Não tem nada de errado em reavaliar. Há uma frase que sempre gostei de usar: não tenho vergonha de mudar de opinião, pois não tenho vergonha de raciocinar e aprender. O nosso governo acerta em 80% das ações. Vamos olhar para cima e corrigir junto com os que acreditam os 20%. Nosso governo, nossa responsabilidade.
Blog do Fábio Sena: Segundo turno das eleições, Bolsonaro contra Haddad e o PT. Como fica o MDB? Qual deve ser a postura do partido no plano nacional, regional e local?
Geanne Oliveira: Essa questão extrapola as decisões das cúpulas partidárias. É um tempo novo o que se instala. O crescimento do Bolsonaro revela o cansaço da população com os caciques em todos os níveis. Não há um ambiente orgânico no partido que tenha força para impor opções. Eu estou certa que precisamos dar possibilidade ao novo. As velhas táticas da política do medo tão bem utilizadas pelo PT precisam ser estancadas. Não tenho receio do novo. Que venha Bolsonaro. Havendo situações em que precisaremos lutar para frear, lutaremos.
Blog do Fábio Sena: Por fim, o que você espera deste segundo turno das eleições? Haverá guerra?
Geanne Oliveira: Nada de guerra, nosso povo é do bem. Somos um país de maioria de gente de bem. Não vamos perder nossa essência. Exceto uns poucos raivosos de um lado e do outro. Haverá de prevalecer o bom senso e o respeito. Somos brasileiros, a pátria do evangelho e Cristo é nossa referência. Tudo acontecerá para auxiliar na evolução de nosso país. Eu acredito no melhor futuro para nós todos.