O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), comentou publicamente nesta segunda-feira (5), em Salvador, a repercussão negativa de uma fala feita por ele durante um evento oficial no interior do estado. Na ocasião, o petista fez duras críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e gerou controvérsia ao usar a expressão “leva tudo pra vala” ao se referir aos apoiadores de Bolsonaro.
Após a forte repercussão, Jerônimo voltou a se manifestar, explicando o contexto da declaração, reconhecendo o exagero e pedindo desculpas. A fala ocorreu na última sexta-feira (2), durante a inauguração de uma escola estadual em América Dourada, no centro-norte baiano. Ao discursar, o governador reprovou a forma como Bolsonaro lidou com a pandemia da Covid-19 e comparou a atuação do governo federal anterior com a do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Foi nesse contexto que ele usou a expressão considerada ofensiva.
“Tivemos um presidente que sorria daqueles que estavam na pandemia sentindo falta de ar. Ele vai pagar essa conta dele, e quem votou nele podia pagar também a conta. Fazia no pacote. Bota uma ‘enchedeira’. Sabe o que é uma ‘enchedeira’? Uma retroescavadeira. Bota e leva tudo pra vala”, disse Jerônimo durante o evento.
O vídeo com a declaração viralizou nas redes sociais e provocou reações imediatas, especialmente entre políticos da direita. O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), o ex-candidato à presidência Padre Kelmon e o deputado estadual baiano Leandro de Jesus (PL) foram alguns dos que se manifestaram publicamente, acusando o governador de incitar a violência contra eleitores bolsonaristas.
Diante da repercussão, Jerônimo esclareceu o episódio. Segundo ele, o trecho foi tirado de um contexto mais amplo, em que fazia uma comparação entre gestões presidenciais, e admitiu que a forma como se expressou não foi apropriada.
“Já falei pela manhã lá no Teatro Castro Alves, voltei a registrar aqui agora. Esse time aqui é o time que faz política para o bem das pessoas. Então, o contexto da minha fala foi um contexto onde eu avaliava a comparação entre o governo anterior, federal, e esse governo do presidente Lula”, explicou o governador.
Ele contou que citava um episódio recente, quando estava em Brejões, e recebeu uma ligação do presidente Lula perguntando sobre a situação das chuvas no estado.
“Recebi uma ligação do presidente Lula perguntando: ‘e as chuvas, governador Jerônimo, como é que estão as coisas? Precisa de ajuda?’. Comecei a fazer a comparação, entendendo que é muito diferente ser governador com um presidente como Lula. E vinha contextualizando como foi ruim ter um presidente que fechava as portas, que sorria, imitando as pessoas em situação de falta de ar. Isso é desumano.”
Foi nesse contexto, segundo ele, que a frase polêmica foi dita. Jerônimo afirmou que reconhece o erro no uso da expressão e que não teve intenção de sugerir qualquer tipo de violência.
“Naturalmente, pegou uma frase… Reconheço: foi um termo infeliz, ali no calor da fala. O termo ‘vala’ não combinou. Já pedi desculpas. É natural que quem faz essa política tenha a coragem e a humildade de entender quando está numa placidez e não parte para cima, ou quando exagera.”
O governador ainda reforçou que sua conduta pessoal e pública jamais se alinharia a discursos de ódio. Disse que é “um homem de igreja” e que não faria uma comparação que desejasse a morte de qualquer pessoa. “Todos vocês já me conhecem, o meu estilo. Eu sou um homem de igreja, que tem ofendido. Jamais eu faria uma comparação de que ‘vala’ seria a morte de um ou de outro. Isso não acontece”, afirmou.
Por fim, Jerônimo afirmou que continuará exercendo seu direito de criticar posturas que considera antidemocráticas ou desrespeitosas, mas sempre dentro do campo das ideias. “Isso não tira o meu direito de criticar algumas pessoas que chegaram a pedir a morte do presidente Lula. Nós não vamos pedir a morte de ninguém. Pelo contrário, a nossa disputa e o nosso conceito de oposição é no campo das ideias”, declarou.