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Documentos do MP-RJ indicam que “rachadinha”em gabinete de Flávio Bolsonaro financiou milícia

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Osenador Flávio Bolsonaro ajudou a financiar e lucrou com a construção de imóveis em áreas irregulares pela milícia no Rio de Janeiro, aponta documentos do Ministério Público (MP-RJ). De acordo com o The Intercept Brasil, o dinheiro proveniente do esquema de “rachadinha” no gabinete do então vereador na Assembleia Legislativa (Alerj) era repassado para Adriano da Nóbrega, morto na Bahia no início do ano, e apontado como chefe do “Escritório do Crime”.

O ex-motorista do filho do presidente, Fabrício Queiroz, era o responsável por confiscar até 40% do salário dos servidores do gabinete, para distribuir a Adriano da Nóbrega. A milícia atua não só na compra de imóveis, como na cobrança de luz, água, energia, “gatonet”, e nas chamadas “taxas de segurança” aos moradores das favelas.

O lucro com a venda dos prédios, com apartamentos de 2/4 avaliados em até R$ 100 mil, era dividido com o então vereador Flávio Bolsonaro. Em 2002, o filho 01 do presidente Jair Bolsonaro ingressou na Alerj com um patrimônio declarado de R$ 25,5 mil. Em 2018, o senador disse ter 1,74 milhão. O que mais chama a atenção é o salto financeiro entre 2015 e 2017, principalmente com a compra de dois apartamentos, na época em que coincide com o emprego da mãe e mulher de Adriano em seu gabinete.

De acordo com o MP, a mãe e a mulher de Adriano movimentaram ao menos R$ 1,1 milhão no período analisado pela investigação. O esquema de rachadinha era feito meio de contas bancárias e repasses em dinheiro a empresas, dentre as quais dois restaurantes, uma loja de material de construção e três pequenas construtoras.

Com sede em Rio das Pedras, as construtoras São Felipe Construção Civil Eireli, São Jorge Construção Civil Eireli e ConstruRioMZ foram registradas, segundo o MP, em nome de “laranjas” do Escritório do Crime. O dinheiro então chegava aos canteiros de obras ilegais por meio de repasses feitos pelo ex-capitão do Bope, aos laranjas das empresas.

A partir de quebra de sigilos telefônicos, a investigação indicou que Adriano, acusado de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco, em março de 2018, era dono das construtoras junto com outros dois ex-PM’s, o tenente reformado, Maurício da Silva Costa, e o major Ronald Paulo Alves Pereira.  

Segundo os promotores, eles usaram nomes de moradores de Rio das Pedras para registrar as construtoras na junta comercial do Rio de Janeiro e despistar o envolvimento do Escritório do Crime. Foi a partir daí que os promotores abriram o inquérito que resultou na Operação Intocáveis – nome escolhido numa referência às patentes de oficiais da Polícia Militar ostentadas pelos chefes da organização criminosa.

Uma das interceptações telefônicas que o The Intercept teve acesso mostra o miliciano Manoel de Brito Batista, que atuava como uma espécie de gerente das obras, ameaçando um interlocutor.  “Eu tenho oito apartamentos naquele prédio, o resto é tudo do Adriano e do Maurício. Entendeu? Você procura eles e fala com eles, entendeu? Não adianta ficar me mandando mensagem”. Batista também foi preso na Operação Intocáveis.

A denúncia do MP mostra que Manoel negociava os imóveis, que tinham os preços definidos por Adriano, ora chamado de “Gordinho”, ora de “Patrãozão”. Já o major Ronald mantinha tabelas de contabilidade e plantas de loteamentos de terra das localidades.

A revelação do envolvimento de Flávio Bolsonaro surge em meio à acusação de Sergio Moro de que Jair Bolsonaro teria tentado interferir em investigações da Polícia Federal. Entre 2014 e 2017, o ex-assessor da Flávio, Queiroz, teve identificados 438 transferências e depósitos em suas contas, totalizando cerca de R$ 7 milhões. Ele também fez depósitos na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro, mas segundo o presidente, foram pagamentos de empréstimos pessoais.

Em áudio vazado no fim de outubro, Queiroz se mostra preocupado com o andamento da investigação. “‘O MP está preparando uma pica do tamanho de um cometa para empurrar na gente”, disse na ocasião. Segundo o The Intercept, é provável que Queiroz sabia quetinha identificado o uso do dinheiro desviado no esquema de rachadinha para financiar o boom de construções ilegais na Muzema e em Rio das Pedras, comunidade onde ele se refugiou em dezembro de 2018.

Desde outubro de 2018, os advogados de Flávio Bolsonaro impetraram nove pedidos no Supremo Tribunal Federal e no Tribunal de Justiça do Rio, alegando que as quebras de sigilo bancário e fiscal do então deputado estadual não poderiam ter sido concedidas por um juiz de primeira instância.

Com a PF sob novo comando, resta saber quais os próximos passos da investigação contra o filho 01 do presidente da República, que se vê cada vez mais isolado em um momento de crise gerada pelo novo coronavírus. Para ler a reportagem completa do The Intercep Brasil basta clicar aqui.


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