O cantor e compositor Xangai, um dos importantes nomes da música popular nordestina, sobe ao palco da Feira Nacional da Reforma Agrária nesta quinta-feira (8), no Parque da Água Branca, em São Paulo. A apresentação está marcada para as 18h30, no Palco Arena, e integra a extensa programação cultural organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), um dos mais tradicionais movimentos de esquerda do país.
Mas o que poderia ser apenas mais uma apresentação de um artista consagrado, ganha contornos políticos curiosos e até contraditórios. Isso porque Xangai é, atualmente, secretário municipal de Cultura de Vitória da Conquista e ocupa o cargo no governo da prefeita Sheila Lemos (União Brasil), que tem se posicionado como uma gestora de direita. Na política, a direita tem frequentemente discurso com críticas a movimentos sociais como o próprio MST.
A presença de um secretário de governo com esse perfil institucional em um dos eventos mais simbólicos da esquerda brasileira levanta perguntas inevitáveis. Seria apenas a força da arte que rompe muros ideológicos? A Feira do MST reúne produtos da agricultura familiar, debates, lançamentos de livros, shows e apresentações artísticas. É, tradicionalmente, um espaço de celebração das lutas populares e de crítica ao agronegócio. Não à toa, o evento costuma ser alvo de ataques de políticos e militantes da direita, o mesmo campo político que Sheila Lemos representa em Conquista.
Xangai, por sua vez, tem uma trajetória marcada por um engajamento cultural e social profundamente vinculado às raízes do povo nordestino. Em suas músicas, canta a terra, o sertão, os vaqueiros, o povo e já se apresentou em edições anteriores da Feira do MST. Sua participação neste ano, no entanto, ganha uma nova camada de interpretação pelo cargo que hoje ocupa.