Aos 24 anos, Sabrina Gomes, do Ceará, enfrenta uma luta intensa contra a Síndrome de Cushing e um timoma — tumor localizado no tórax que afeta funções importantes no organismo. As duas condições trazem complicações graves, como problemas respiratórios, hipertensão, falência renal e alterações no metabolismo, além de escurecimento da pele.
O tumor produz o hormônio ACTH em excesso, levando Sabrina a desenvolver a Síndrome de Cushing, que eleva a quantidade de cortisol em seu organismo. Esse hormônio, normalmente produzido na hipófise, é fundamental para equilibrar o açúcar no sangue e fortalecer o sistema imunológico. Contudo, Sabrina convive com altos níveis de ACTH, o que tem gerado uma série de sintomas.
Entre as consequências, a síndrome provoca acúmulo de gordura, fadiga extrema, dificuldade de cicatrização e pressão arterial elevada. A jovem passou por diferentes tratamentos na tentativa de controle da doença.
Acompanhamento e tratamento médico para tumor raro
A endocrinologista Ana Rosa Quidute, da Universidade Federal do Ceará, é uma das médicas que acompanham o caso de Sabrina no Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC). Segundo a especialista, o timoma da jovem é uma ocorrência rara, uma vez que nem todos os tumores produzem hormônios. “Não é todo tumor que produz hormônio. O mais comum é não produzir, por isso que são entidades raras”, comentou.
Desde o início do tratamento, a estabilização dos hormônios foi a prioridade da equipe. Segundo Ana Rosa, o excesso hormonal representa risco imediato para a vida da paciente, exigindo intervenção rápida para redução do ACTH, antes mesmo de tratar diretamente o tumor. De início, tentou-se controlar os sintomas com medicação, mas, com a piora do quadro, Sabrina precisou se submeter a uma adrenalectomia (retirada das glândulas adrenais) em 2022.
Mudança na cor da pele e causas hormonais
Após a cirurgia, embora o excesso de cortisol tenha sido controlado, o tumor continuou a crescer, atingindo 17 centímetros. Essa remoção, no entanto, teve um efeito colateral inesperado: a pele de Sabrina começou a escurecer. O processo ocorre porque o ACTH e o MSH, hormônio relacionado à produção de melanina (pigmento que dá cor à pele), são biologicamente semelhantes. Com os níveis elevados de ACTH, o organismo “confunde” os hormônios, estimulando a produção excessiva de melanina e escurecendo a pele.
Exames recentes mostraram que o timoma, agora com 17 centímetros, comprime o esôfago, a veia cava e o coração, além de invadir vasos no tórax, o que dificulta sua remoção cirúrgica. Diante disso, a equipe médica propôs um tratamento com lutécio, medicamento radioativo que destrói células tumorais específicas. “Essas células que produzem hormônios, que são células de linhagem neuroendócrinas, em algumas situações elas captam, elas incorporam radiofármacos. O lutécio é um radiofármaco”, explica Ana Rosa. Com esse método, a equipe espera reduzir o tamanho do tumor e conter o avanço da doença.
A realização do tratamento depende da compatibilidade das células tumorais de Sabrina com o radiofármaco, o que foi confirmado em um exame de captação. “Existe uma luz no fim do túnel”, diz Ana Rosa. Com quatro aplicações a cada seis semanas, o custo do lutécio é estimado em R$ 32 mil por dose, totalizando R$ 130 mil.
Sabrina conseguiu, por decisão judicial, que o Estado do Ceará financiasse o tratamento. Contudo, desde março de 2024, aguarda a liberação do medicamento, enfrentando burocracias que atrasam o procedimento. “A gente tem que ir lá, eu levo o papel dizendo da minha gravidade, mas não adianta nada”, desabafou ao g1. Em agosto, nova decisão determinou urgência no fornecimento do medicamento, mas a espera persiste.