Pacientes com doença renal crônica estão sofrendo para conseguir ter acesso a hemodiálise na rede pública em Vitória da Conquista. O problema que ganhou destaque nesta semana, também está acontecendo em outras cidades brasileiras. Em Vitória da Conquista duas clínicas são credenciadas à Prefeitura de Vitória da Conquista, para realizar os atendimentos pelo SUS. São elas: a Clínica URO – Instituto de Urologia e Nefrologia Limitada- e Nephron- Nephron Serviços de Hemodiálise Limitada.
A Uro já havia se pronunciado e atribuiu o problema ao aumento dos valores e a falta dos insumos, como o Blog do Sena divulgou na quarta-feira (14). Já a Nephron, se pronunciou pela primeira vez nesta quinta-feira (15), por meio de uma nota de esclarecimento divulgada no perfil oficial da clínica no instagram.
Na nota, a Nephron atribuiu a crise aos valores do reembolso realizados pelo SUS. Segundo a clínica, são insuficientes para cobrir o custo de uma sessão.“A Nephron não tem problemas com insumos para diálise. Tem problema sim, com o valor do reembolso do SUS, que atualmente não cobre o custo da sessão. As autoridades já foram alertadas que precisam cofinanciar o setor, mas se mostram, até então, passivas, sem nada fazer”, disse.
Outro problema atribuído pela clínica são os gastos com a equipe médica. De acordo com a Nephoron, o piso de enfermagem, aliado ao preço alto dos insumos, vai agravar ainda mais a situação. “A situação poderá se tornar irreversível caso o piso de enfermagem vigore, quando a maioria poderá fechar. É preciso mais seriedade das autoridades para encarar o problema da crise que atinge o setor. Não existe crise de insumos, existe crise no preço dos insumos e da mão de obra. Os gestores precisam encarar o problema com mais seriedade e decisão”, diz outro trecho da nota.
A Nephron também criticou o Governo do Estado e cobrou mais celeridade. “Precisam resolver, e não postergar a solução do problema com notas que não abordam o X da questão. Precisamos de um cofinanciamento urgente! O Planserv está com seus preços, e teto financeiro, congelados há muitos anos. O governo do estado nada faz para corrigir o problema! É a receita do caos!”, diz a nota.
De acordo com uma nota divulgada pela Prefeitura de Vitória da Conquista, na quarta-feira (14), a crise está sendo causada pela “falta de insumos básicos, desabastecimento industrial, estoques no limite e reajuste exorbitante nos preços, fatores que têm dificultado e até impossibilitando a continuidade do serviços prestados por diversas clínicas do país.”
Informou também que os “contratos com as clínicas estão vigentes e que todos os pagamentos estão sendo realizados sem atraso”. Mesmo assim, as duas clínicas estão realizando atendimento abaixo da capacidade. A URO é responsável pelo atendimento de 432 pacientes pela rede SUS, mas hoje só atende 295. Já a Nephron tem capacidade para atender 223 pacientes e tem, hoje, 215 pessoas em tratamento. As duas clínicas não estão recebendo novos pacientes.
Já em relação aos valores referentes ao SUS, a nota não explicou. Mas, de acordo com a apuração realizada pelo Blog do Sena, a Secretária Municipal de Saúde (SMS), não pode mudar os valores, já que são do SUS e é de responsabilidade do Ministério da Saúde, órgão do Governo Federal. A tabela do SUS é praticada de maneira igual em todo território nacional.
Cenário Nacional
O repasse dos valores realizados pelo SUS é um problema que já havia sido denunciado pela Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT) e é de responsabilidade do Governo Federal. De acordo com eles, os repasses feito pelo Ministério da Saúde não acompanhou o cenário econômico atual e se tornaram-se insuficientes diante dos aumentos de custos. Dependendo do porte da clínica, os valores recebidos pela prestação de serviços estão de 32% a 49% abaixo do custo real do tratamento.
Um levantamento feito pela ABCDT aponta que, nos últimos cinco anos, quase 40 clínicas fecharam no país. Outras dezenas optaram por não atender mais pacientes do SUS. A doença renal crônica (DRC) é uma das principais causas de morte no Brasil, com 40 mil novos casos ao ano, de pessoas com alguma disfunção renal. O Brasil tem aproximadamente 550 pacientes para cada milhão de habitantes