Uma das vítimas do médium Antonio Miguel Rodrigues, de 53 anos, que está sendo investigado por quatro homicídios, passou por uma cirurgia nos testículos sem anestesia.
O aposentado Mário Joaci Pereira Rocha, de 71 anos, contou que fez cirurgias para a retirada de líquidos nos testículos. O caso dele é tipicado como lesão corporal grave. Segundo o idoso, os órgãos foram perfurados com oito agulhas pelo médium. “Os relatos eram de que ele fazia cirurgia espiritual, mas na hora lá ele enfiou oito agulhas nos meus testículos”, contou ele.
Ainda de acordo com Rocha, ele foi colocado deitado em uma sala com outras 20 pessoas, que também foram operadas de uma vez pelo médium. “Ele mexia em um, depois outro. Ia passando e a gente vendo aquilo, assustado”, disse.
Os testículos dele foram furados sem anestesia. “A primeira furada foi uma dor horrível, depois veio a segunda, maior ainda, e da terceira em diante fiquei anestesiado de tanta dor. Nunca senti tanta dor na vida”, conta o aposentado.
A polícia investiga as condições do ambiente onde eram realizados os procedimentos em Barreiras, uma vez que parentes das vítimas relataram que o médium usava objetos como tesoura, bisturis e agulhas.
Casos
Entre as vítimas baianas estão Vanderluce Soares dos Santos, de 42 anos, e Arnaldo Domingos dos Passos, de 78 anos, que morreram de infecção generalizada, respectivamente, nos dias 29 e 31 de dezembro de 2018 no Hospital do Oeste, em Barreiras.
Uma das filhas de Passos, que procurou a delegacia e prefere não divulgar o nome, contou que após o pai começar a ter os problemas, “o médium ainda falou que não era para a gente levá-lo ao médico”. Para ela, “o médium é um charlatão”.
Em Aparecida de Goiânia, onde as denúncias contra o médium apareceram depois que a polícia da Bahia iniciou as investigações, relatos apontam até para o uso de martelo nos procedimentos.
As vítimas em Aparecida de Goiânia são Sebastiana Peixoto Pires, de 73 anos, morta ano passado, e Raimunda Souza Matos, de 52 anos, morta em 2015 no centro espírita do médium.
“Uma das filhas (de Sebastiana) que acompanhou a mãe na cirurgia falou que ele usava instrumentos, como bisturi, tesouras, seringa, e relatou uma história que ele usou um martelo numa situação específica, dentro da sala de cirurgia”, disse a delegada Cybelli Tristão.
Resposta
À polícia, o médium alegou inocência com relação aos casos da Bahia. Ele é responsável por um centro espírita chamado Grupo Espírita Bezerra de Menezes, em Aparecida de Goiânia. Ele chegou a se apresentar à polícia de Goiás no dia 5, mas ainda não havia registro de denúncias contra ele na cidade goiana. O depoimento do médium no Estado será na próxima semana.
A reportagem não conseguiu contato com o médium Antônio Miguel Rodrigues nem com o centro espírita Bezerra de Menezes nesta quinta-feira, 10. Já a Federação Espírita Brasileira (FEB) declarou que não poderia se manifestar sobre o assunto porque não tem conhecimento se o médium tem sua atividade reconhecida pela representação estadual da entidade. O escritório regional não foi localizado nesta quinta-feira.