Neste sábado (31), Sashira Camilly Cunha Silva completaria 23 anos. A jovem de sorriso doce e sonhos grandiosos, que cursava Engenharia Civil na FAINOR, em Vitória da Conquista, foi vítima de um crime brutal e premeditado em setembro de 2021. Quase quatro anos após seu feminicídio, os principais acusados ainda não foram julgados e a família, mergulhada em dor, continua em busca de justiça.
Sashira foi morta no dia 15 de setembro de 2021. Segundo investigações da Polícia Civil, a jovem foi atraída para uma emboscada pelo ex-namorado, Rafael Souza Lima, que não aceitava o fim do relacionamento. Com o auxílio dos colegas de faculdade Marcos Vinícius Botelho Fernandes de Almeida e Filipe dos Santos Gusmão, Rafael planejou meticulosamente cada detalhe do assassinato.
De acordo com a polícia, a jovem foi dopada com um refrigerante misturado a comprimidos de Rivotril. Sashira percebeu o gosto estranho e tentou escapar. Foi então que Rafael a golpeou com uma faca. Ferida, ela ainda resistiu. Em seguida, Marcos Vinícius a estrangulou com as próprias mãos, até que ela parasse de respirar.
O corpo da jovem foi colocado em um carro e levado para um terreno baldio na zona rural de Planalto, cidade a cerca de 50 quilômetros de Conquista. Dias depois, foi encontrado, já em estado de decomposição.
O caso chocou a cidade e causou comoção em todo o estado da Bahia. Sashira foi lembrada como uma jovem alegre, inteligente, cheia de planos e muito querida por familiares e amigos.
Desde então, a família de Sashira vive com um buraco no peito. O pai da jovem, o empresário Edilvânio Alves, conhecido como “Seis Dedos”, tem sido a principal voz da luta por justiça. Ao longo desses anos, ele deu inúmeras entrevistas, participou de atos e organizou homenagens para manter viva a memória da filha.
“Ela sonhava em construir, em ser engenheira, em cuidar da família… Tiraram isso dela e de nós. A dor não passa, e o pior é saber que até hoje eles não foram julgados. Parece que para o sistema, a vida dela não importa”, disse Seis Dedos em entrevista ao Blog do Sena.
Ele também ergueu a Arena Sashira, um espaço de lazer e eventos idealizado por sua filha ainda em vida. “Cada canto tem um pouco dela. Ela sonhou com esse lugar, e eu fiz questão de construir. Foi a forma que encontrei de continuar ouvindo sua voz”, declarou, emocionado.
Quase 4 anos depois, sem julgamento
O tempo passa, mas a justiça ainda não veio. Rafael Souza Lima e Marcos Vinícius Botelho continuam presos no Conjunto Penal de Vitória da Conquista. Já Filipe Gusmão, inicialmente preso, foi solto em 2023 por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que concedeu habeas corpus. A liberdade de um dos acusados revoltou a família e a sociedade, que viram nisso mais um sinal da lentidão e da fragilidade do sistema judicial.
O processo segue em andamento, mas até hoje, nenhuma audiência de julgamento foi marcada. A morosidade tem deixado a família exausta e descrente. “Enquanto eles estão vivos, com direito à defesa, minha filha foi enterrada sem chance nenhuma. Queremos justiça. Não só por ela, mas por todas as mulheres vítimas de feminicídio”, afirma o pai.
O aniversário de Sashira, que deveria ser celebrado com abraços, será marcado por recordações, lágrimas nos olhos e uma certeza nos corações: ela não será esquecida.
A história de Sashira virou símbolo da luta contra o feminicídio. Sua morte expôs as falhas do sistema, a banalização da violência contra a mulher e o abismo entre a dor de quem perde e o conforto de quem violenta.
O nome de Sashira Camilly ecoa como um clamor por justiça, por memória, por todas que, como ela, tiveram suas vozes caladas.