Já se passaram três meses desde o início da reabertura gradual do comércio em Vitória da Conquista, mas só nesse último domingo, 30, o prefeito Herzem Gusmão decidiu, repentinamente, se preocupar com o risco de disseminação da covid-19 através da distribuição de folhetos, panfletos e outros tipos de materiais impressos entregues, manualmente, a pedestres e motoristas da cidade.
Por meio do decreto 20.496, Herzem proibiu o serviço de panfletagem, interrompendo o trabalho de centenas de pessoas que têm essa atividade como a única fonte de renda para sobreviver durante a pandemia. Além de desconsiderar por completo os efeitos de tal medida na vida desses trabalhadores, o mandatário ignorou a possibilidades de adotar medidas de precaução mais específicas para a categoria em vez de simplesmente impedi-los de continuar trabalhando.
Os protestos dos panfletistas já se multiplicam pelas redes sociais. E o fato do atual gestor municipal passar, abruptamente, a enxergar a panfletagem como um problema no contexto local da pandemia é no mínimo estranho, diante de algumas circunstâncias.
A mais lógica delas, claro, está relacionada com a circulação de dinheiro. Por que proibir a distribuição de panfletos no município se o material impresso mais utilizado pela população circula de mãos em mãos no comércio conquistense? Cédulas de dinheiro são usadas a todo momento para pagamento de contas, compra de produtos e aquisição de serviços, só para citar alguns exemplos.
É impossível, portanto, não nos questionarmos se a medida não teria motivações políticas escusas.
Alguns dias antes da publicação do decreto, uma equipe montada pelo deputado Marcell Moraes (PSDB), um dos principais pré-candidatos adversários de Herzem na corrida eleitoral deste ano, vinha distribuindo panfletos com as propostas do tucano para Conquista.
Além disso, cabe ainda lembrar que um dos maiores opositores do prefeito, Chico Estrela, possui uma empresa de crédito na cidade. E esse tipo de empresa é a que mais utiliza do serviço de panfletagem. Será, então, que a proibição da atividade foi uma forma encontrada por Gusmão para prejudicar adversários políticos. Independentemente da resposta, o questionamento precisa ser feito.