O presidente da Latam Brasil, Jerome Cadier, avaliou que o país deve ser um dos últimos a reconquistar a liberdade de fronteiras em função da pandemia de Covid-19. Segundo ele, a percepção externa é de que os brasileiros não estão dando conta da crise sanitária e que isso vai nos impor restrições mais rigorosas. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o dirigente da área destacou que a pandemia no Brasil quebrou o ritmo de retomada que o setor vinha registrando nos voos domésticos. Cadier ainda afirmou que a oferta deve cair ainda mais em abril.
“Primeiro, é o impacto direto nas vendas. Na medida em que os hospitais estão lotados, e as restrições, cada vez mais duras, as vendas caem muito forte. Na terceira semana de janeiro, já vimos uma mudança de tendência, que foi se confirmando em fevereiro. E março está no ponto mais agudo. As vendas caem em um nível parecido com maio do ano passado, que foi um pouco depois do pior momento”, afirmou Cadier.
“A diferença é que, quando a gente estava com esse nível de venda, tinha quase parado a operação. Agora, tivemos de frear de novo. Vínhamos na retomada. Aí os voos começaram a ficar vazios. A gente corta a operação de novo”, declarou.
Jerome Cadier respondeu se o cenário do Brasil pode atrapalhar ainda mais o internacional no momento de recuperação, no processo de abertura das fronteiras. “Já é assim. Hoje, as restrições já são mais duras para nós. Essa semana, o Peru voltou a permitir que os viajantes internacionais cheguem lá sem necessariamente fazerem quarentena. Precisa ter um PCR negativo, mas pode entrar no Peru sem fazer quarentena, desde que você não seja brasileiro. Já tem medidas mais duras e que vão fazer com que a recuperação do voo internacional de e para o Brasil seja muito mais lenta. Tem realidade e percepção. Estamos falhando nos dois. Quando as pessoas olham para o Brasil hoje, os dados mostram número de mortos muito alto, ocupação das UTIs no limite”, disse o presidente da Latam Brasil.
“São dados muito feios. Mas a gente já começou a sofrer as sanções em outubro, quando os números não estavam tão ruins. Por quê? Pelo fator percepção. Pela percepção de que o Brasil não está tomando conta, que não há política clara de uso de máscara, de que as medidas de restrição dependem de cada cidade e estado, ficam mudando sem muito critério, de que o tema da vacina não está resolvido. Estamos apanhando nos dois: realidade e percepção. Até a gente conseguir voltar a ter uma liberdade de fronteira como tínhamos antes da pandemia, acho que o Brasil vai ser um dos últimos países a conseguir fazer isso. Infelizmente”, finalizou.