cenário das eleições para a prefeitura de Vitória da Conquista, no sudoeste baiano, não apresenta grandes novidades. A tendência é que a população da cidade veja em 2020 a reedição da disputa ocorrida em 2016, quando o atual prefeito Herzem Gusmão (MDB) e um candidato do PT, na ocasião o deputado estadual Zé Raimundo, polarizaram a corrida eleitoral e travaram um segundo turno.
Apesar de mais uma eleição baseada neste binômio, outros partidos também se movimentam para lançar nomes. No entanto, as costuras nessas siglas ainda são incipientes e, enquanto PT e MDB já estão com estratégias mais delineadas, as outras tentam se organizar para enfrentar adversários em condições mais favoráveis.
Herzem e a reeleição
Quando questionado sobre tentar um novo mandato, o atual prefeito Herzem Gusmão adota o discurso de que não está pensando em eleição. No entanto, não resiste a essa narrativa quando confrontado com a pergunta várias vezes.
“O que tenho dito é que, no ano que vem, vou proclamar que o PT ficou em Conquista 20 anos. Eu quero mais quatro. Claro que entendo que quatro anos é muito pouco”, diz, em entrevista ao BNews.
O discurso de antagônico ao PT também mostra que ele está combatendo, desde já, aquele que deve ser seu principal adversário no próximo ano. Diz ter encontrado a cidade com um grande passivo acumulado nos 20 anos do partido no poder. Por isso, coloca na herança petista a culpa por problemas como a falta de planejamento urbano do município, o terceiro maior do estado.
“Governar eles não governam, mas em fazer propaganda eles são imbatíveis. Não tinha plano de saneamento básico, de mobilidade urbana. Estamos projetando Conquista para 2040”, criticou Herzem.
Ainda de acordo com ele, as eleições só começarão a ser debatidas no próximo ano, apesar das cobranças dos aliados para que antecipe as conversas sobre o assunto. “Tenho sido criticado por não abrir o debate sobre sucessão, mas penso nisso. Isso vai acontecer naturalmente. O município tem questões importantes, relevantes”, reafirma.
PT em torno dos mesmos nomes
O PT se prepara para retomar o comando da cidade, que foi seu durante 20 anos, de 1997 a 2016. Para isso, não vai apostar em novidades. Pretende apresentar aos conquistenses um nome já conhecido da população. Os mais cogitados são os do ex-prefeito Guilherme Menezes, maior liderança petista local, e o deputado estadual Zé Raimundo, que perdeu o segundo turno para Herzem em 2016. O deputado federal Waldenor Pereira também é mencionado nos bastidores, mas com menos força.
Guilherme é cauteloso ao falar sobre a possibilidade de concorrer novamente, aos 75 anos. Dentro da sigla, há quem questione a disposição dele de participar de mais uma corrida pela prefeitura, que governou quatro vezes. Mas o próprio ex-prefeito não descarta isso. Diz estar esperando a sigla iniciar o debate interno para poder se posicionar.
“Não participei de nenhum debate no partido, estou esperando chegar esse momento para poder aprofundar a questão. Uma ou outra pessoa às vezes lembra [do nome dele], mas essas coisas sempre deixo para a direção partidária pra poder colocar a minha opinião. A gente nunca pode estar se precipitando nessas coisas”, defende.
Atualmente representante do escritório do governo da Bahia em Brasília, Guilherme pediu ao governador que continue exercendo esta função, mas em Vitória da Conquista. Segundo ele, o objetivo é auxiliar o partido para as eleições de 2020.
Já para o presidente do PT na Bahia, Everaldo Anunciação, Guilherme seria o candidato natural à sucessão de Herzem Gusmão. De acordo com ele, há um “apelo na cidade” pela volta do ex-prefeito.
“Isso mostra essa disposição da sociedade de ter um governo petista, diante da experiência desastrosa que a cidade está vivendo”, afirma, em relação ao atual governo.
Apesar de reconhecer a força eleitoral de Guilherme, Everaldo também lembra que Zé Raimundo é “um grande goleador” para representar a legenda em Conquista. O presidente da agremiação na Bahia afirma também que vai tentar buscar a união das siglas aliadas ao governador Rui Costa em torno da candidatura petista. Para ele, a hegemonia da legenda na cidade deve prevalecer nas negociações com os demais partidos.
“Esse seria o cenário ideal [unidade em torno de candidato petista], apesar de que temos de compreender que é uma eleição de dois turnos. Eu acho que a legitimidade dos fatos levam a essa compreensão [da unificação], sem arrogância e sem prepotência. Como em outras cidades, teremos legitimidade de candidaturas de outros partidos”, avalia.
Em busca da terceira via
Na tentativa de driblar a polarização, outros partidos tentam se organizar para montar uma terceira via.
Mas, nesse objetivo, apenas o PSDB parece ter uma definição sobre quem será sua alternativa. Trata-se do deputado estadual Marcell Moraes. Ele diz que já articula alianças com outras siglas e coloca como exigência ter o apoio do DEM à sua candidatura. Segundo o parlamentar, essa é uma condição para que os tucanos apoiem Bruno Reis na sucessão de ACM Neto (DEM).
“Se minha candidatura for pra frente, o DEM tem obrigação de me apoiar, se quiser ver o PSDB apoiar o candidato do DEM para prefeito. O DEM não é ponto principal. O PSDB é maior que o Democratas, sem dúvidas. PSDB é partido grande, não entra como coadjuvante”, defende.
No seu característico tom incisivo, que demonstra como ele deve conduzir sua campanha, o deputado também desfere ataques ao prefeito Herzem, cuja gestão classifica como “imundície”, e ao PT.
“A gestão dele é um desastre, um retrocesso, uma desmoralização, uma vergonha, uma imundície. Herzem foi meu colega, dizia que amava Conquista, mas isso não é amor, é ódio. O PT é a mesma coisa. A cidade não aguenta mais essa forma eleitoreira de administrar a cidade”, critica.
Da base do governador Rui Costa, PDT, PSB e PCdoB ainda estudam o que fazer. Entre os comunistas, o mais provável é que o deputado estadual Fabrício Falcão vá para a disputa, assim como ocorreu em 2016. Mas candidato próprio não é condição sine qua non para a legenda, que cogita apoiar a um nome da base.
“A decisão do PT cabe ao PT. Nossa definição independe do PT. Nossa definição virá a partir da conjuntua política e a definição do melhor projeto para a cidade e para o partido”, diz Davidson Magalhães, presidente estadual do partido, sobre a estratégia petista de querer um nome único, da sigla, para concorrer.
O PSB, que disputou o Executivo conquistense em 2016 com Joás Meira, está em análise se vai lançar, ou não, algum postulante. É o que diz o 1° secretário do partido na Bahia, Rodrigo Hita.
“Claro que candidatura própria em cidade importante chama atenção, mas acho que isso tem que ser bem construído. Não tem nada hoje firmado, estamos analisando. Precisamos saber se temos quadro para disputar as eleições em Conquista”, diz.
Já no PDT, “é certo que vamos procurar ter candidato”, afirma o presidente estadual deputado federal Félix Mendonça Jr. A dúvida é, no entanto, quem poderia ser o candidato. “Eu vou ter ainda uma reunião em Conquista para ver quais são as filiações, os nomes que vamos ter para candidato”, declara, em tom improvisado.
Eleição nova, disputa velha
Para o cientista político Matheus Silveira, professor da Universidade do Sudoeste da Bahia (Uesb), os partidos que procuram ser terceira via terão grandes dificuldades de vencer a polarização que se desenha entre PT e Herzem.
Na avaliação dele, os petistas têm força histórica na cidade e conseguiram manter o capital político-eleitoral, mesmo com a derrota para Herzem. Por outro lado, o atual prefeito conseguiu se encontrar na gestão e tem melhorado a administração. Quando se junta a esses fatores a questão de Herzem ser o “dono da máquina”, o emedebista se fortalece como o outro polo da disputa. Com isso, o cientista aposta em uma reedição da batalha entre forças de centro-esquerda e centro-direita, como comumente acontecia entre PT e PSDB no plano federal, até Jair Bolsonaro vencer o pleito de 2018.
“[O PT] É um partido muito forte, tem muitas conexões político-sociais e, portanto, é, de partida, uma força política muito competitiva. Em se configurando um segundo turno, o PT deve aglutinar as forças de oposição ao prefeito. Herzem bateu muita cabeça no primeiro ano, mas, desde o ano passado, tem conseguido organizar o governo e está fortalecendo seu nome. No segundo turno, deve estar também. Descarto uma terceira via, que consiga fugir dessa polarização. Nenhuma força conseguiu publicizar a existência dessa terceira via”, analisa.
Ainda segundo Silveira, Herzem terá mais dificuldades de vencer o PT do que o contrário. Na avaliação do professor da Uesb, os conquistenses não nutrem pelo partido o sentimento de antipetismo, o que fortalece a sigla. Ele relembra que não há registro, em todo o país, de caso semelhante ao ocorrido com a legenda em Conquista, onde o PT ficou no governo por 20 anos. Diluir este capital, portanto, não é fácil.
“O PT perdeu a última eleição muito mais por um desgaste normal que representa cinco mandatos do que pelo sentimento antipetista. O desafio é maior para o prefeito, de bater o PT e se reeleger, do que o PT terá que impedir a reeleição do atual prefeito. Nesse momento, penso que o PT está na frente e o prefeito vai ter que correr atrás”, avalia.Leia Mais
*Bnews