Morando atualmente em Porto Seguro, no extremo-sul da Bahia, a pastora Simone Soares, de 41 anos, relata os dramas que viveu durante a sua vida no estado e, em Goiás, para onde a família de uma tia se mudou em busca de tratamento para o marido deficiente visual.
A pastora destaca que o primeiro drama na vida ocorreu quando ela tinha seis meses de vida, com o pai matando a sua mãe. Ela conta que, anos depois, aos 13 anos de idade, foi abusada pelo médium João de Deus, 77, preso preventivamente desde 16 de dezembro de 2018, sob a acusação de praticar mais de uma centena de crimes sexuais.
Simone também foi vítima de violência doméstica como sua mãe: casou-se com um pastor evangélico e foi agredida por ele. Decidiu não denunciar o homem porque ele é pai de dois de seus cinco filhos. Mas saiu de casa e hoje reconstrói a vida ao lado de um namorado da adolescência que reencontrou após duas décadas.
Morando em Porto Seguro, a hoje pastora do Ministério Tabernáculo do Avivamento, recolhe doações para construir um abrigo para mulheres vítimas de violência. “Meu pai era policial e matou minha mãe num Natal, quando ela tinha 23 anos. Aconteceu na casa onde morávamos, em Vitória da Conquista”.
Simone Soares diz que, anos depois de ter matado a sua mãe, o pai alegou que sentia muito ciúme dela e que, mesmo antes do casamento, tinha vontade de matá-la. “Ele era alcoólatra e a família da minha mãe já tinha alertado para que ela o deixasse. No dia do crime, ele saiu para beber e mandou uma das minhas irmãs, na época com quatro anos, falar para minha mãe que iria matá-la”.
De acordo com a a pastora, pai trancou a mãe no quarto, colocou o guarda-roupa atravessado na porta e atirou. “Não pegou em mim porque ela me jogou no berço. Minhas duas irmãs estavam na cozinha brincando. Ele foi preso, mas conseguiu responder o processo em liberdade. Durante esse tempo, eu e minhas irmãs moramos com uma tia, irmã do meu pai”.
O ENCONTRO COM JOÃO DE DEUS
Simone Soares conta que, quando completou 13 anos, o marido da tia com quem morou teve um problema na visão e mudaram-se para Anápolis (GO), em busca de uma cura espiritual com o João de Deus. “Frequentávamos a Casa de Dom Inácio de Loyola [em Abadiânia, onde o médium fazia os atendimentos] toda quarta, quinta e sexta, para o tratamento dele. Não adiantou. Hoje, ele é cego”.
A pastora relata que, quando chegaram lá, João de Deus falou que ela e as irmãs eram médiuns. “Passei a realizar atividades na casa, como segurar materiais usados na enfermaria. “Uma vez, o João me mandou entrar na sala com um senhor que tinha deficiência visual. Esse idoso ficou deitado no sofá, e João me mandou ficar em silêncio”.
Ela conta que, em seguida cometeu o abuso. “Ele abriu a calça, tirou minha blusa e tocou em mim. Não houve estupro, mas ele fez o que quis. Me senti muito mal, mas tinha medo de denunciar uma entidade, como ele era considerado. Quando acabou, ele abriu a porta da sala e falou para minha tia, que ficou no lado de fora me esperando, que eu precisava desenvolver a mediunidade e que, para isso, tinha que voltar mais vezes. Leia mais aqui no Uol.