Yldene Martins, advogada de 41 anos, está acusando uma vizinha de condomínio de ter cometido graves ataques racistas contra ela na última sexta-feira (13), em Vitória da Conquista. Ela conta que só não foi agredida fisicamente porque o porteiro interviu. A vítima é também conselheira estadual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) na Bahia.
“Quando você morrer nem o urubu vai te querer de tão ruim que você é, sua cadela negra, macaca sapecada”. É assim que a advogada descreve os ataques feitos pela vizinha, identificada como Floraci Chaves dos Santos Coqueiro.
Os ataques começaram quando a advogada solicitou que ela retirasse o carro da sua vaga. A partir daí, a vizinha começou a dizer que ela estava “fazendo questão de uma garagem e que quando ela morresse a vaga não iria com ela”.
A advogada contou ainda que acionou a Polícia Militar, que foi ao local, mas não encontrou a acusada. Depois disso, Yldene registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil e contou com apoio da categoria para enfrentar a injúria racial que sofreu. “Estou tendo apoio da OAB, mas o síndico do condomínio ignorou a situação, até hoje não veio falar comigo pessoalmente, ele só soltou a nota de repúdio depois da repercussão na mídia, fui ignorada por ele. Eu que procurei, e ele ainda estava levando o caso como uma simples briga de vizinhos”, disse.
“Nunca passei por racismo tão explícito, por isso minha reação de choque, fiquei espantada, chorei muito, mas não podemos nos calar diante de um crime desse. A punição precisa ser mais rigorosa nestes casos, é inadmissível que isso ainda aconteça”, finalizou a advogada.
O condomínio se manifestou em nota: “A administração do condomínio Residencial Vog Capriccio vem através deste informar que repudia qualquer ato discriminatório de racismo ou de qualquer outra natureza. Repudia também qualquer atitude de violência seja ela física ou verbal que possa ocorrer em qualquer circunstância, bem como no descumprimento de regras do regimento interno. Acreditamos na Justiça, através da ação direta da PM de Vitória da Conquista e do poder judiciário, estamos certos de que através dos órgãos competentes essa ocorrência será devidamente apurada, as testemunhas ouvidas e os culpados devidamente punidos”.
No boletim de ocorrência, obtido por reportagem da TV Sudoeste, Floraci Chaves dos Santos Coqueiro, teria xingado Yldene de nomes como “urubu negro”, “cadela negra” e “negra vagabunda”, antes de a tentar agredir com um chinelo. Nesse momento, ela teria dito “Eu vou dar uma surra agora nessa cadela negra, você me paga”. Foi quando o porteiro interferiu.
A OAB saiu em defesa da profissional e manifestou “sua irrestrita solidariedade à jovem advogada”. A Ordem destacou um entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), fixado em outubro do ano passado, que considera que o crime de injúria racial é espécie do gênero racismo, sendo, portanto, inafiançável e imprescritível, conforme o artigo 5º, inciso XLII, da Constituição Federal.
A Ordem e a Subseção de Vitória da Conquista repudiaram o racismo sofrido e reafirmaram a disposição de lutar pela promoção da igualdade racial e pela dignidade da pessoa humana.
“É inadmissível que no Brasil, maior nação negra fora do continente africano, tenhamos que conviver com práticas cotidianas de opressão que negam direitos e tentam rebaixar o ser humano pela cor da sua pele, origem, raça ou etnia”, diz o pronunciamento.
De acordo com a OAB, Yldene Martins já está sendo acompanhada pela Comissão de Promoção da Igualdade Racial da Subseção de Vitória da Conquista e terá o apoio da Subseção e da Seccional baiana da instituição.
A reportagem não conseguiu localizar a acusada, nem sua defesa, para comentar o caso.