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Conquista: Vinte dias depois, filhos vivem angústia de não saber se mãe morta com suspeita de Covid-19 tinha mesmo a doença

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Aquela quarta-feira, dia 1º de abril, deve ter sido o pior dia na vida dos filhos de Lucimara Oliveira Santos. No começo da manhã eles receberam a notícia de que a mãe havia morrido, aos 47 anos, no Hospital Geral de Vitória da Conquista, o Hospital de Base. O óbito ocorrera um pouco antes da meia noite anterior e o irmão de Mara, como ela era tratada pela família e pelos quatro filhos, e uma sobrinha, Cleiliany, foram avisadas pelo hospital às 7h00 e tiveram que dar a triste notícia à família.

Mara já tinha sido internada em fevereiro. Era cardiopata e tinha outros problemas saúde (a declaração de óbito deu como diagnóstico sepse causada por uma pneumonia e, entre outras condições que contribuíram para a morte, insuficiência renal, hipertensão e diabetes), mas deixou o hospital por conta própria, tendo assinado um termo de responsabilidade e liberada para voltar para casa, onde tomava todos os cuidados, com repouso e dieta. Mas, no dia dia 28 de março, ela piorou, sentiu muita falta de ar, a glicemia estava alta, com picos de pressão alta e, assim, foi levada às pressas primeiro para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e de lá direto para a UTI do Hospital de Base

Quando a filha mais velha dela, Janayna, foi fazer a liberação do corpo foi informada de que havia uma suspeita para Covid-19. Lucimara chegara ao hospital com falta de ar e foi logo intubada. Pelo quadro em que chegou, o protocolo determina a testagem para o novo coronavírus. E isso, segundo consta, foi feito.

Mas, se a notícia da perda da mãe caiu como uma bomba e não bastassem todas as restrições para o funeral, sem poder fazer a despedida que a mãe merecia, já que o velório foi proibido e apenas os familiares mais próximos puderam ir ao cemitério esperar o corpo, levado pela funerária ainda no dia 1º, poucas horas depois da liberação, a quinta-feira (2), reservaria ainda mais um choque para os filhos de Mara. Eles ficaram sabendo, pelas redes sociais, que um funcionário da funerária havia postado nas redes sociais fotos do atestado de óbito e do saco mortuário onde estava o corpo de Mara, com uma etiqueta colada em que se lia: “paciente suspeita de Covid-19”.

As imagens circularam pelo WhatsApp acompanhadas de um áudio em que o empregado da funerária insinuava, a pretexto de alertar a cidade, que ela tinha morrido em razão do coronavírus. A invasão causou constrangimento e dor na família, que procurou a polícia e deu queixa contra a empresa. A notícia, no entanto, se espalhou e até hoje muita gente tem certeza de que Lucimara morreu com Covid-19 e que sua família também deve estar contaminada. Os filhos, então, passaram a esperar pelo laudo do Laboratório Central da Bahia (Lacen), que iria esclarecer se a mãe realmente tinha coronavírus.

QUEREMOS LIMPAR ESSA MANCHA

Desde a morte de Lucimara já se passaram 20 dias e os familiares dela não receberam qualquer resposta da Secretaria de Saúde. Intimamente, a família acredita que ela não morreu de Covid-19, mesmo assim está angustiada. Os filhos dizem que não é apenas por não saberem se Mara foi contaminada pelo coronavírus, mas porque o resultado do exame vai representar uma resposta para outras pessoas, vizinhos, inclusive, que até se afastaram por achar que tem mais gente com coronavírus na família.

A filha mais velha de Lucimara, Janayna, explica que os parentes mais próximos aguardam com ansiedade o resultado dos exames porque, em primeiro lugar, confiam que virá negativo, mas porque é importante que todo munda saiba que a mãe dela não morreu de Covid-19 e que ninguém na casa está com a doença.

‘“Muitas pessoas se afastaram da gente pensando que minha mãe estava com o vírus. A gente acredita que ela nunca teve essa doença, mas, como não chegou o resultado a gente também acaba tendo essa incerteza. E a gente precisa do resultado porque quer provar para todo mundo [que ela não tinha Covid-10] e limpar essa mancha que fizeram na vida dela, na nossa vida, que machucou muito a gente”, diz Janayna.

O apelo dela é para que a Secretaria de Saúde libere logo o laudo. “A gente sabe que ela não tinha essa doença, ela já vinha sofrendo desde fevereiro, com esse mesmo problema, só que a gente precisa de uma resposta pra gente poder dar seguimento na nossa, porque ficou esse machucado na nossa vida. É muito ruim, depois de tudo o que a gente passou, até agora não ter chegado uma resposta”.

Janayna conta que a família não recebeu nenhuma assistência da Secretaria de Saúde, nem da municipal, nem da estadual. Apesar de terem considerado o óbito da mãe dela como suspeito de Covid-19 ninguém mais foi testado. Sequer falaram o que a família deveria fazer para se cuidar, caso alguém pudesse estar infectado, ou para se prevenir da contaminação. “A gente está isolada por conta própria. Ninguém disse nada pra gente. Estamos em casa, sem sair, por nossa iniciativa, porque somos do grupo de risco. Eu tenho problema cardíaco, minha irmã mais nova tem bronquite asmática e meu avô que mora com a gente é idoso. A gente não sai por esse motivo, ninguém da saúde ou do hospital falou nada. Nem entraram em contato. Nenhum de nós foi testado”, conta Janayna.

Sobrinha de Mara, a psicóloga Cleiliany Oliveira (com a tia na foto) diz que é mais difícil para os filhos vivenciarem o luto em uma situação assim, depois que a mãe foi exposta e a família constrangida publicamente. “E como houve toda aquela confusão do compartilhamento indevido de fotos, elas – e nem o restante da família – não puderam vivenciar a dor naquele momento”, comenta Cleiliany Para ela, “a demora no resultado é como uma situação em aberto, sabe. Que quando sair será como um cutuque em uma ferida que está em processo de cicatrização”.

Fonte: Blog de Giorlando Lima


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