Blog do Sena – Vitória da Conquista- Bahia

Conquista: Professor Genivan Neri é homenageado em carta do PSB

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Companheiro Genivan,

É amigo, estamos todos aqui comentando que você partiu sem combinar. Nós ainda tínhamos muitas empreitadas para fazermos juntos, mesmo você já tendo dado uma contribuição acima da média das pessoas que trabalham e que lutam para melhorar a vida das pessoas…

Agora, depois de alguns dias, resolvi lhe escrever esta carta, certamente a primeira e, talvez, a única, afinal, ao longo dos anos, estávamos sempre um perto do outro e eu não precisava escrever em particular para você. Eu achava que iria ter oportunidade de lhe contar alguns detalhes do seu acidente, lhe atualizar das questões políticas e ainda contar com a sua participação na campanha… Aí veio esse trágico acidente e nos tirou você do nosso convívio.

Tá difícil companheiro, mas vamos tentar seguir.

Não sei se lhe contaram quando você recebeu alta do hospital durante alguns dias de sua aparente melhora que, naquele dia 28 de agosto, quando alguém vindo desgovernado lhe atingiu no trecho entre Vila Mariana e Anagé e provocou esse trágico acidente, que talvez eu tenha sido a primeira pessoa, entre seus amigos mais próximos e familiares, a ser comunicado do acidente. Afinal, muita gente nos conhece e sabe da nossa ligação – Genivan-Gildelson. Quem passou alguns minutos após o acidente e me ligou de imediato para avisar foi nosso amigo Cau do antigo Bloco Qual é? Apesar de assustado com a notícia, a primeira coisa que lembrei foi de avisar ao SAMU 192 que você era diabético para que os cuidados fossem redobrados e, em seguida, liguei para sua irmã Alda para que tomasse as providencias e mobilizasse a família.

Apesar de muito angustiado com a situação, de certa forma me acalmei um pouco quando recebi uma ligação do médico socorrista dizendo que você havia pedido para me ligar e para que eu informasse aos seus familiares para qual hospital você estava sendo conduzido. Pensei, apesar da gravidade do acidente, Genivan está consciente e está assistido…

No dia seguinte, menos de 24 horas do acidente, soube que você já tinha feito os exames necessários e teria alta do hospital. Achei estranho e fiquei um pouco desconfiado, mas feliz pela boa notícia (na realidade a alta só ocorreu alguns dias depois). Naquele momento, liguei para Alda e ela me colocou para falar rapidamente com você e você me disse: _“Escapei de novo, velho!”_ Eu e Valéria fizemos as recomendações de cuidados, desejamos melhoras e brincamos com você, dizendo: _“Você é igual gato, tem 7 vidas!”_

Depois de alguns dias na casa de Alda, você voltou a ser internado e a ficar em toda essa luta de UTI até não dar mais…

Ainda desolado e sem querer entender, eu fiquei me perguntando “Cadê as 7 vidas do meu amigo/irmão Genivan que eu havia falado? Aí eu fiquei pensando, quantas vidas foram gastas na UTI (esses altos e baixos de mais de 15 dias)? E no outro grave acidente que você teve em 2002? E o risco de vida das empreitadas políticas? E as inúmeras viagens para fazer campanhas em lugares de difícil acesso? E as viagens emergenciais e imprevistas para socorrer companheiros? E o risco que passamos quando pinchávamos muros e colávamos cartazes exigindo Democracia e o fim da Ditadura Militar? Lembra da memorável Eleição de Waldir Pires para Governador (1986) quando, aqui em Conquista, saímos a noite, na véspera do comício do velho ACM para colocar cartazes de Waldir e a cidade estava cheia de capangas (os milicianos de hoje) de ACM para nos impedir? Você teve o azar de encontrar com um grupo desses capangas que lhe agrediu (apenas uns tapas no peito e uns empurrões). Ali, com muita sorte, você foi salvo porque estávamos articulados e divididos em grupos para proteger uns aos outros.

Nós bem sabemos da prática política das oligarquias e a ditadura não tinha receio de cometer assassinatos. Enfim, companheiro, metaforicamente falando, mas com riscos reais, acho que você teve foi mais de 70 vidas. Mas, com tudo isso, você partiu muito cedo e não foi combinado… Mesmo tendo contribuído muito, você merecia ter e curtir a sua aposentadoria, curtir mais um pouco os seus filhos e neto, desfrutar um pouco mais dos seus amigos e, quem sabe, ver uma sociedade um pouco mais humana.

Amigo, vou ter que me alongar um pouco mais. Eu sabia que você era um cara querido, seja pelas relações pessoais, seja pelas relações profissionais e políticas, mas não fazia ideia de que tanta gente gostava e admirava você assim. Só as mensagens que chegam para mim, são centenas. Imagine quando juntar as de Pedro Lucas e Ivana (filhos) e demais familiares e amigos? Infelizmente, não conseguirei responder a todas! Mas têm muitas pessoas que relatam o convívio com você e a gratidão pelos seus ensinamentos, conselhos e solidariedade em momentos importantes da vida delas.

Você recebeu justas homenagens dos companheiros do PSB, de todos os partidos do nosso campo de esquerda, de personalidades políticas e até de opositores. O movimento sindical nem se fala, todos emitiram notas de solidariedade. Afinal, como aprendemos, os trabalhadores têm que se unir e juntos irmanar contra toda forma de opressão. Nessa luta, então, você vai fazer uma falta danada!

Esses últimos dias, companheiro, foram difíceis. Fazer o Congresso do PSB sem a sua presença e ter Ivana e Pedro Lucas lhe representando e relatando o seu quadro de saúde foi emocionante e doloroso demais. Só fizemos o Congresso por um rito legal e sabendo que você gostaria que o nosso PSB seguisse o caminho tentando contribuir com a nossa cidade. Pois bem, as decisões do nosso Congresso e as resoluções políticas foram na linha do que conversamos por telefone 2 dias antes do acidente. Sua opinião convergiu com a da maioria dos membros do diretório e dos candidatos a vereador – afinal você era um dos mais experientes e de posições claras do que seria melhor para a cidade e o partido (muitas vezes duro) (rs). Nossa chapa de vereadores será dedicada a você e a sua militância de 31 anos de PSB.

O seu velório e cortejo foram de muitas emoções e não tinha como conter as lágrimas… Chorava pela minha dor e pela dor dos seus… Mas foi bonito, fizemos um cortejo da Câmara de Vereadores até o Cemitério da Saudade e passamos na frente da casa de sua mãe, ao som das músicas Coração de Estudante, Canção da América, Coração Civil e Pra não dizer que não falei das flores. Acho que você gostou, né? Não dei conta de quantos e quais amigos/as foram, afinal era muita gente e estávamos todos mascarados por conta da pandemia, mas quem saiu no cisco foram alguns daqueles velhos amigos/irmãos do Coração de Estudante: Zé Carlos, Silvio, Marquinhos, Zilton, Marcelo (Sapão), Paulão, Jelton e até Elias (Afrânio) apareceu depois de muitos anos fora de Conquista.

Outra coisa importante é que parte do cortejo fui abraçado com Peu (Pedro Lucas) e conversando com ele. Peu me disse que não conhecia todas as nossas histórias e queria que depois eu contasse para ele. Me comprometi, mas sei que vai ser difícil contar todas. Nossa cumplicidade de irmão e militante político se confunde, mesmo que, em muitos momentos, tenhamos tido divergências e discussões que pareciam que íamos sair aos tapas naquela sede do PSB. Houve muitos momentos de falas duras para refletirmos e nos fazer crescer. Quando extrapolávamos no verbo, o pedido de desculpas e gestos de irmão nos fortaleciam.

Invariavelmente, você era duro com as palavras e com suas posições. Como disse o grande Che, você endurecia sem perder a ternura. A sua sinceridade com as pessoas e o acolhimento mudou a vida de muita gente. O engraçado disso é que, apesar do seu jeito duro, você tinha mais paciência e atenção com as pessoas do que eu. Ultimamente, você vinha me regulando pelo fato de não estar tendo mais paciência para discutir com pessoas da direita e com os bolsominions.

Antes de lembrar um pouquinho da sua história, quero dizer para você que seus filhos, Ivana e Pedro Lucas, são uns guerreiros. Apesar da pouca idade, não descolaram de você e sempre terão você como a grande referência. Em geral, somos uma mistura dos nossos pais e buscamos seguir os seus bons exemplos. O problema é quando alguns deixam de se espelhar nos bons exemplos e são tragados pelas vaidades e preconceitos de parte hipócrita da sociedade, né? Fique tranquilo que não é o caso dos seus! Além de já serem jovens empreendedores e assumirem grande responsabilidade, eles têm uma grande mãe (Denise) e tios e tias zelosos. Mas se precisar um colo amigo e uns “puxões de orelha”, estaremos todos apostos (eu, Valéria, Luanna e Luma).

No dia e momento em que os seus filhos receberam a notícia da sua partida, estávamos todos lá, naquela grande mesa da casa de seus pais, e Peu se lembrou do seu lugar. Parece até que ouvimos, na voz de Nelson Gonçalves, “ Naquela mesa tá faltando ele…E a saudade tá doendo em mim”.

Outra coisa, sempre tive admiração por sua mãe, Dona Geni, pelo modo simples e acolhedor que sempre nos recebeu, mas não sabia que aquela pequena mulher era uma fortaleza. Apesar da dor da perda tão recente do seu pai, seu Ivan, (para quem não sabe, o nome GenIvan é a fusão do nome de seus pais: Dona Geni e Seu Ivan, sendo o primogênito do casal) e, agora, a sua partida, ela se mantem firme, ancorada na sua fé e no suporte de seus irmãos: Otavino (Neto), Moizeis, Aderbal (Donda), André e sua irmã Alda. Ao me solidarizar com eles e comungar de cada dor, sei o quanto foi e está sendo sofrível para sua companheira Márcia, que também estava lá firme.

Bem companheiro, tentado atender um pouco o pedido de Peu (Pedro Lucas) e buscando socializar um pedacinho da sua história com outros amigos, vou lembrar algumas coisas e já pedir desculpas pelos eventuais lapsos da memória ou equívocos de algum relato, esperando que outros amigos corrijam e complementem. Afinal, o historiador era você e você se foi sem escrever as memórias políticas dos últimos 40 anos e, em especial, aquilo que eu lhe pedia sempre: Um caderno com as frases de ditos populares e as jocosas histórias de políticos narradas por você em nossas reuniões, na mesa da casa de seus pais e na mesa de sua casa, sempre regada a um bom café. Quem sabe seu irmão Moizeis e alguns amigos não consigam reunir um dia para relembrar essas histórias e darmos boas risadas?

Bem amigo, não sei se você se lembra, mas começamos nossa amizade em 1983, organizando e mobilizando delegação de estudantes para o Congresso da UBES (União Brasileira de Estudantes Secundaristas) e, em seguida, nosso amigo Gilmar Gama nos convidou para sermos jurados na Baita Ginkana do IEED. Aí, passamos a nos envolver com atividades culturais e, também, de forma mais efetiva com as reivindicações do movimento estudantil, na luta pela Educação Pública para todos e a defesa das liberdades democráticas (era final do Regime Militar).

Em 1984, eu fui eleito presidente do Grêmio da Escola Normal (IEED) com a chapa “Coração de Estudante” e você foi eleito o primeiro presidente da UMES (União Municipal dos Estudantes Secundaristas). A partir daí, criamos o Grupo Coração de Estudante com atuação no Movimento Estudantil em toda cidade e mobilizando delegações a Congressos Estaduais e Nacionais de Estudantes. Nos anos seguintes, ingressamos na UESB e lá continuamos a militância no ME universitário, participando de órgãos colegiados da UESB, assumindo a direção do Centro Acadêmico “Dinaelza Coqueiro” e a construção do DCE (Diretório Central dos Estudantes), além da organização de eventos em nível estadual e nacional. Além da participação no movimento estudantil, você (Genivan) apoiou e auxiliou na construção de algumas Associações de Moradores da época. Em decorrência desse seu envolvimento, você foi convidado para assumir a SUTRAB (Superintendência Baiana para o Trabalho) aqui em Conquista durante o governo Waldir Pires.

Vou falar com Peu que, mesmo com todo esse envolvimento com o Movimento Estudantil e a Política, nós éramos jovens normais. Jogávamos bola com a turma da rua da Conquista no antigo campinho do Serrano (atual Hotel Ibis), fazíamos festas nas nossas residências para bater papo, dançar e namorar e, invariavelmente, após as aulas noturnas, virávamos as noites no bar do meu pai (Seu Juca), conversando sobre todos os assuntos e curtindo os nossos vinis de MPB e, quando necessário, o bar se transformava em nosso “APARELHO” para pintar cartazes e faixas, organizar colagem de cartazes e preparar o material para as pichações de protestos políticos, além de escrevermos os textos dos jornais e panfletos subversivos da época. Quanto mais tarde, mais “seguro” era!

Vou falar de uma característica nossa de menor importância: mesmo a gente virando a noite em um bar com todo tipo de bebidas alcoólicas, poucos bebiam. Eu e você, Genivan, fomos aprender a tomar uma cerveja depois de vinte e tantos anos. Nossa geração era meio cafona, não me lembro se alguém fumava um baseado. Se fumavam, não sabíamos. Nesse caso, não era por moralismo, era por uma certa consciência, que por sermos filhos de pessoas humildes e trabalhadoras e estarmos envolvidos na militância política, não queríamos dar chance de sermos surpreendidos pelo aparelho repressor do Estado.

Fazíamos política com muita determinação e buscávamos nos preparar intelectualmente, mas curtíamos muito e chegamos a criar o Bloco Carnavalesco Fascinação. E, no bloco, durante os desfiles, cada um da diretoria tinha uma função e você com esse jeitão duro, mas de bom diálogo, cuidava da turma da corda (segurança), mas só esperava acabar o desfile para sumir no mundo. Não sei se deveria contar essa parte … (rs)

Quando em 1988, eu fui candidato a vereador com apenas 22 anos de idade, foi uma decisão do grupo, mas, sobretudo, por sua influência e a necessidade de ocuparmos espaços enquanto jovens, encampando as bandeiras da Educação e da luta dos trabalhadores. Tenho plena consciência que, daqueles 638 votos, a maioria tinha sua influência, afinal você tinha uma grande rede familiar e de amigos. E o mais importante: você pedia voto e eu não. Lembra quando você tentou me enquadrar dizendo que as pessoas simples e mais idosas (por uma questão cultural) gostavam que o candidato pedisse o voto e me colocou para pedir o voto a sua mãe, me deixando bastante embaraçado? (rs)

Para época, esses votos foram bem representativos, pois tal votação superou a votação de candidatos do PT e do PCdoB naquela eleição. Eu vi que você era bom mesmo para pedir votos e que tinha muitos amigos quando, na eleição de 2000, você teve 1.178 votos para vereador e ficou na primeira suplência. Chegaram até a anunciar que você foi eleito, mas refazendo os cálculos não deu.

Esse seu jeito simples e a cara de pau para pedir votos eram demais! Lembra quando fomos entregar um documento ao juiz eleitoral e, na cara dura, você entregou o seu santinho ao juiz e pediu voto dizendo: “Doutor fulano, sei que as pessoas não pedem voto ao senhor, mas o senhor também é cidadão e gostaria que avaliasse o meu nome”. O juiz, de forma serena e educada, recebeu com muita simpatia o seu santinho e guardou no bolso dando um sinal que era possível que ele votasse em você. Eu acho que ele votou em você! Foi uma campanha bonita e memorável quem não lembra daquele jipão adaptado como carro de som tocando a música _“quarenta cento e quarenta eu vou votar em Genivan!”_

Por falar em eleição, não poderia deixar de lembrar das suas polêmicas e jocosas frases do dito popular quando, em 2012, um blog local estampou a matéria: _”Genivan afirma que não vai disputar pelanca com gato”._ A matéria era uma entrevista em que você anunciava que não seria candidato a vereador, porque não tinha interesse em disputar uma eleição nos moldes do “toma lá da cá”, na prática de clientelismo onde predominava a disputa mesquinha de espaços, no uso das estruturas de governos e do abuso do poder econômico. Pejorativamente, a “pelanca” era o pobre do eleitor que passava a ser puxado de um lado para o outro pelos malandros da política tradicional.

Aí, meu amigo, vieram as suas participações e contribuições nos governos, no mandato da Senadora Lídice da Mata; na presidência do PSB de Conquista e na Direção Estadual do partido quando lhe deram a tarefa de organizar o PSB em toda região Sudoeste; na Coordenação geral de campanhas eleitorais memoráveis, a exemplo da eleição presidencial de 1989, da chapa da Frente Brasil Popular com Lula e Bisol, de campanhas de governadores, da companheira Lídice da Mata e Domingos Leonelli e de tantos outros. Junto a outros companheiros, você coordenou dezenas de manifestações populares em defesa da Educação, dos trabalhadores e das liberdades democráticas. Nesses últimos anos, você vinha contribuindo de forma mais efetiva com o movimento sindical, em particular na direção da APLB em defesa dos seus colegas professores.

A gente que é professor, não consegue calcular quantas pessoas ajudamos a criar uma consciência crítica e influenciar para continuar os estudos em busca de uma formação que as oportunize um crescimento pessoal e profissional. Seus ex-alunos devem saber bem disso. Mas eu sei, também, que, para além da sala de aula, o quanto você foi pedagógico com os nossos militantes políticos. Quantas lideranças que vinham para ser candidato a vereador e tinham parado de estudar, uns no ensino fundamental, outros no ensino médio, e você jogava duro afirmando que ninguém poderia parar de estudar e se contentar com os estudos que tinha, pois, cada vez mais, as estruturas sociais e do mundo do trabalho exigiam melhor qualificação.

Você influenciou vereador eleito e esposa a voltarem a estudar e, assim, a alcançarem uma escolaridade via EJA. Quantos companheiros e companheiras que tinham parado de estudar no ensino médio, você com a sua pedagogia “dura” direcionou para fazer o ensino superior?! Muitos falam de você com gratidão: _“Eu só tenho um curso superior hoje porque Genivan me botou para estudar!”_ São esses e tantos outros exemplos que nos dão prazer em ser professor e em participar da política, não é mesmo, companheiro?

Não sei se você se lembra, quando no início da década de 1990, trabalhávamos juntos na prefeitura organizando os primeiros loteamentos de habitação popular provenientes de ocupações urbanas. Alguns dos critérios da época, além obviamente da pessoa provar que não tinha casa própria, eram priorizar as famílias que tinham filhos menores e mulheres grávidas. Um fato engraçado é que uma dessas senhoras assentadas que estava grávida e, em gratidão ao modo como conduzimos o processo, falou para todo mundo que ela iria ter gêmeos e que colocaria os nomes dos filhos Genivan e Gildelson em nossa homenagem. Fiquei na dúvida se foi no Loteamento Henriqueta Prates ou na área ocupada do fundo do antigo aeroporto. Nas gestões do prefeito Guilherme Menezes, você contribuiu na área de Desenvolvimento Social, no Recursos Humanos e foi um dos responsáveis por implantar o Frigorífico Municipal. Foram sempre tarefas complexas e desafiadoras!

São tantas histórias que poucos conhecem, que vou contar apenas mais uma para não cansar demais aqueles que toparam ler.
Quando as pessoas das antigas, sejam do meio político, sejam da imprensa, falam dos meninos do PSB (Genivan, Gildelson e Zé Carlos) é porque, simbolicamente, nós três representamos uma geração de jovens que enveredou pelo caminho da militância política e não se separou da luta e do convívio pessoal. Mas, não apenas nós três, sempre fomos acompanhados de dezenas de outros valorosos companheiros/as que contribuíram e se envolveram nessas empreitadas.

Essa história dos meninos do PSB começou, em 1992, quando ainda éramos jovens. Nesse período, Pedral Sampaio foi candidato a Prefeito pelo PSB e fez uma acordo com o velho ACM de receber o seu apoio para prefeito e, em contra partida, Pedral o apoiaria numa eventual candidatura a Presidência da República. Pedral sabia que não aceitaríamos essa aliança e que a sua estratégia seria, então, a de negar o acordo velado (e assinado) até chegar na convenção e cooptar a maioria dos convencionais e empurrar a aliança goela abaixo.

O problema é que Pedral não contava que teríamos acesso ao sigiloso documento/acordo assinado por ele e os demais presidentes de partidos aliados, exceto o PSB, que tinha como presidente Itamar Aguiar (que até então não sabia do tal acordo) e que faríamos de tudo para não permitir a composição política de Pedral do PSB com a direita de ACM. Alguns dias antes da convenção, Zé Carlos viu o documento assinado e havia nos confirmado que o acordo existia.
A partir daí, provocamos algumas reuniões para que Pedral esclarecesse e recuasse da posição, mas ele sempre negava. Aí, entra você, velho! Tinha que ser Genivan, com o seu jeito duro e direto a falar na lata após Pedral negar algumas vezes o acordo: _“Pedral larga de mentira! Você assinou o documento se comprometendo a apoiar ACM. Nós vimos o documento, tem a sua assinatura e depois tem as assinaturas tais e tais”._ Pedral, tendo certeza de que tínhamos visto o documento pela ordem de assinatura que Genivan descreveu, não podia mais negar e falou: _”Eu assinei, porra! Eles não confiam em mim… Quem vai ser o prefeito sou eu, quem vai mandar sou eu… Gildelson conversa com a Nacional do PSB para autorizar porque eu estou recebendo apoio…”._ De pronto, eu falei que pediria a expulsão dele (de Pedral) do partido. Bom… o detalhamento dessa história dá um livro.

Em resumo, os companheiros da época, Itamar Aguiar e Rolph Cabeceiras fizeram um processo com todo o rigor legal e estatutário para expulsão de Pedral em todas instâncias partidárias. Foi um embate político duro e difícil, inclusive para você que sempre teve Pedral como uma grande referência da esquerda durante o período da Ditadura Militar. Mas, para nós, a coerência política e ideológica não poderia estar subordinada a interesses meramente eleitorais. Até Miguel Arraes perguntou a Itamar se não tinha acordo com Pedral e nós mantivemos a nossa posição. No final dessa história, Pedral foi eleito prefeito, sendo expulso em todas as instâncias partidárias.

Antes que algum pedralista apaixonado venha dizer que estamos manchado a história de Pedral, quero dizer que todos nós temos o maior respeito pela sua história e o seu legado, não obstante divergimos ideologicamente do seu encaminhamento nesse episódio e da sua última gestão ter sido problemática. Inclusive, sempre comentamos que, na nossa opinião, os três prefeitos mais importantes da história da conquista (por motivos variados) foram Regis Pacheco, Pedral Sampaio e Guilherme Menezes.

Aí Peu vai me perguntar _”E a história dos meninos”?_ É que, com essa divergência, durante a campanha, passamos a fazer embates públicos com Pedral, denunciando o seu acordo político e, quando ele era perguntado sobre isso, ele dizia que os meninos do PSB (nós e os demais da direção) eram muito radicais. Então, esse termo “os meninos” ao invés de nos diminuir, foi considerado por nós como um reconhecimento da nossa coerência histórica e da nossa postura em não abrir mão dos nossos princípios ao longo dos anos. Dessa forma, a menção aos “meninos do PSB” passou a ser uma referência elogiosa a nós que, diga-se de passagem, já há algum tempo não somos mais meninos.

Para nós, aceitar uma aliança com o filhote da Ditadura (ACM) seria equivalente a nos aliançarmos com o atual presidente genocida-fascista-miliciano que destrói o país a passos largos ou o atual prefeito autoritário-incompetente-falastrão que desrespeita o funcionalismo público, e, em particular, os professores. É, meu irmão, narrar histórias com tantos detalhes em poucas linhas não é fácil e isso era tarefa sua (rs).

Por último, Genivan, não posso deixar de dizer para Pedro Lucas e Ivana da sua solidariedade para com os outros, da sua coragem para proteger companheiros das injustiças, inclusive arriscando o seu próprio pescoço. Sejam nas injustiças e discriminação de pessoas, nas diversas forma de perseguição e intolerância, a questões mais complexas, você nunca se omitiu, sempre estendeu a mão e as defendeu com muita firmeza e determinação.

Vou ficando por aqui, companheiro! Se não está fácil para mim e para os meus, imagine para os seus? Aqui, ainda temos um time de amigos e companheiros valorosos. Mesmo com o seu desfalque, a luta vai ter que continuar e insistiremos em _“semear um sonho que um dia vai ter que ser real”._ Afinal, o que nos alimenta e nos impulsiona são as nossas utopias!

*Valeu a luta, companheiro!*

Descanse em paz, meu irmão!

Forte abraço!

Gildelson Felicio


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