Uma mãe denunciou que ela e sua filha autista de 9 anos foram desrespeitadas dentro de um ônibus do transporte público de Vitória da Conquista. Segundo Jaqueline, a criança não conseguiu passar pela catraca, e a cobradora não aceitou a situação, gerando uma discussão que acabou na delegacia.
Jaqueline, que é mãe de dois filhos autistas, explicou que sua filha, Cecília, possui outras comorbidades, como bipolaridade, transtorno na fala e Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) severo. O caso foi divulgado no programa Bahia Meio Dia, da TV Sudoeste.
O caso aconteceu na semana passada, quando Jaqueline entrou no ônibus com a filha e informou à cobradora que a criança não conseguiria passar pela catraca porque ficava agitada e desconfortável. No entanto, segundo a mãe, a funcionária insistiu que a menina precisava passar.
“Quando a gente foi descer do ônibus, eu falei: ‘Ô, Cecília, passa o cartão, mãe roda a catraca.’ Aí a cobradora disse: ‘Não, ela é obrigada a passar na catraca.’ Mas minha filha estava devidamente identificada com o cordão e o crachá. Eu disse: ‘Meu bem, ela não pode passar na catraca porque está desregulada.’ Ela insistiu: ‘Ela é obrigada porque é norma da empresa’”, relatou Jaqueline.
A discussão se agravou, e Cecília, assustada, desceu do ônibus. Jaqueline permaneceu dentro do veículo, quando a cobradora teria pedido ao motorista que seguisse viagem. “Ela falou: ‘Arrasta o ônibus.’ O motorista respondeu: ‘Não, porque a criança está do lado de fora.’” Segundo a mãe, a funcionária então exigiu que Cecília retornasse ao veículo, mas Jaqueline não permitiu.
Com a situação, a criança entrou em crise. Jaqueline registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil, denunciou o caso ao Conselho Tutelar e ao Ministério Público e acionou um advogado, Lucas da Cunha. “Na esfera cível, vamos acionar tanto a empresa Atlântico como o município de Vitória da Conquista, tendo em vista que tal fato gerou constrangimento tanto na criança quanto na mãe. Então, vamos buscar essa reparação por dano moral na Justiça”, explicou o advogado da família.
A delegada responsável pelo caso, Rosilene Moreira, revelou que este foi o segundo episódio de desrespeito aos direitos da pessoa autista na mesma semana, envolvendo a mesma empresa de transporte. “A gente teve outro registro também envolvendo uma criança portadora do TEA, e isso nos preocupa. O transporte público deve ser acompanhado e administrado por pessoas que têm responsabilidade e comprometimento. Isso será apurado”, afirmou.
Edmilla Arielle, psicóloga infantojuvenil consultada pela reportagem, destacou que pessoas dentro do espectro autista podem apresentar dificuldades sensoriais e resistência a estímulos como sons, cheiros e multidões. “O espectro nada mais é do que a forma individual desse autista se comporta diante do mundo Não é porque duas pessoas possuem um transtorno do espectro autista que irão se comportar de maneiras iguais. Cada um tem sua subjetividade dentro do autismo”, explicou.
Em nota, a Prefeitura de Vitória da Conquista informou que está apurando o ocorrido para tomar as medidas necessárias. Além disso, afirmou que vai preparar uma cartilha de ética para motoristas, cobradores e demais profissionais do transporte público e que solicitou às empresas do setor que capacitem seus funcionários com cursos de relações humanas.