Blog do Sena – Vitória da Conquista- Bahia

Conquista: ” A gente conseguiu sair e eles quase iam passando por cima de mim”, diz moradora de assentamento desocupado pela Prefeitura

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Foto: Blog do Sena

A ação da Prefeitura de Vitória da Conquista que desabrigou cerca de 300 famílias, em pelo feriado de São João, no frio e diante da pandemia do novo coronavírus, na quinta-feira (24) repercutiu negativamente na cidade.

As famílias ocuparam há mais de 40 dias o assentamento Alto da Boa Vista, localizado na estrada da Barra do Choça, e construíram barracos de lona e madeira, além da plantação de hortaliças, como uma forma de gerar renda.

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O Blog do Sena esteve no local, nesta sexta-feira (25) e constatou o cenário de destruição. Os moradores confirmaram que a ação da Prefeitura aconteceu sem aviso prévio. As máquinas chegaram por volta de 5h da manhã e todos estavam dormindo, inclusive as crianças. Para Vanderlei Alves Reis, um dos ocupantes do assentamento, a ação aconteceu de forma desrespeitosa e sem cuidado com a vida das pessoas que estavam no local.

“Foi um presente que a prefeita nos deu, com a covardia dela né? Fora que a gente já teve umas reuniões com ela. Se tivesse qualquer assunto para tratar, tivesse nos chamado para uma reunião, ela nos deixou surpreendido e a reunião que ela marcou com a gente foi essa surpresa, botando a vida de todo mundo em risco”, contou Reis.

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O morador ainda disse que um representante da prefeitura agiu com autoritarismo e não respeitou animais, crianças e mulheres. “O secretário muito autoritário, achando que é o dono do poder, rasgando lona, não respeitando as mulheres que estavam dormindo, não respeitando ninguém, passando por cima de galinhas, gato e cachorro, fazendo um vandalismo”, informou Reis.

Outra moradora que também conversou com a nossa reportagem foi Lane Lima. Ela informou que acordou com o barulho de máquinas e quando levantou para ver o que estava acontecendo viu policiais, guardas municipais e duas máquinas já derrubando os barracos do assentamento.

“Por volta da 5h da manhã a gente já assustou quando a gente ouviu o barulho  das máquinas. E  a gente falou assim: hoje é feriado porque o barulho das máquinas? Aí quando a gente saiu, a gente viu bastante policiamento e a guarda municipal e a tropa de choque também veio. Aí quando a gente viu já tinham derrubado alguns barracos lá do início todinho. Aí a gente conseguiu ir tirando as coisas, como cama, porque o de lá já tinha aterrado, até os documentos das pessoas perderam tudo”, explicou Lima.

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Diferente de outros moradores, Lane Lima conseguiu salvar alguns móveis, documentos pessoais, alimentos e até retirar as crianças de dentro do barraco. Ela também pediu para desmontar o barraco já que todo o material custou dinheiro. Mas, ação além de impactos psicológicos, morais, também deixou vestígios em sua pele e acredita que quase perdeu um olho.

“Quando eles chegaram, eu disse para eles esperarem um pouquinho porque custou dinheiro, a gente comprou caro os materiais para poder fazer o barraco. A gente conseguiu sair e eles quase iam passando por cima de mim, eu afastei um pouco aí eles foram para derrubar o outro barraco e a vara escapuliu e quase fura meu olho, eu consegui desviar e arranhou um pouquinho”, disse a moradora.

A  área em questão pertence ao município de Vitória da Conquista e está destinada a um equipamento público, segundo informou o Governo Municipal. E justifica ainda a desocupação por supostamente alguns moradores estarem comercializando os terrenos. No entanto, os moradores negaram que estejam comercializando terrenos.

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Os moradores também informaram que logo quando ocuparam o lugar foram até a Prefeitura e tiveram uma reunião com o representante da Prefeitura e que está registrada em ata. Agora, os moradores do local esperam uma solução e pedem “humanidade” para resolver o problema.

“O apelo que eu faço é para ela (prefeita) ser um ser humano e parar de ser covarde, vim resolver o assunto com a gente da melhor forma possível. Igual a gente foi lá no gabinete, com o chefe de gabinete, nós temos ata registrada (…) e ficou decidido, o que ela resolvesse fazer com a gente, ou levar para outro lugar ou em segunda instância marcar uma reunião para conversar com ela. Ela foi covarde! Prefeita pelo amor de Deus seja humana, veja a necessidade do povo, olha pandemia o que fez”, disse Vanderlei Alves Reis.

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A moradora Lane Lima informou que na manhã de hoje (25), uma assistente social foi até o assentamento para realizar um cadastramento, mas os moradores não aceitaram conversar. “Hoje que eles mandaram uma assistente social para poder fazer o cadastro, mas só que a gente não aceitou. Porque a gente já tinha mandado a ata para lá, porque eles não resolveram? Ou então eles avisassem a gente que a gente teria tirado as coisas, mas já veio de surpresa”, ressaltou Lima.

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Os moradores informoram que vão continuar no assentamento até que a Prefeita Sheila Lemos (DEM) resolva pessoalmente a situação. “Nós vamos ficar aqui até ela (prefeita) vir direto conversar com nós, arrumar uma área para a gente  trabalhar, plantar e colher”, finalizou o morador Vanderlei Alves Reis.

No início do mês de junho, ações de desocupação foram proibidas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso, que  determinou a suspensão por seis meses de medidas administrativas ou judiciais que resultem em desocupações de residências, devido a pandemia. Já o plenário do Senado Federal aprovou nessa quarta-feira (23) , o projeto que suspende medidas judiciais o despejo ou desocupação de imóveis até o fim de 2021. O PL 827/2020 suspende os atos praticados desde 20 de março de 2020, exceto aqueles já concluídos, e segue agora para sanção presidencial.

Confira a entrevista com Lane Lima. 


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