A pouco mais de um ano e meio da próxima eleição para a presidência da Câmara Municipal de Vitória da Conquista, os bastidores da Casa já fervem com articulações, trocas de farpas e um racha explícito entre os vereadores. O estopim para a tensão política é a discussão sobre a possibilidade ou não de reeleição para o comando da Câmara, tema que ganhou força durante a reformulação da Lei Orgânica do Município que é considerada a “Constituição” de Vitória da Conquista. Para que haja reeleição, uma mudança na lei será necessária.
A reforma da Lei Orgânica está sendo conduzida por uma Comissão Especial da Câmara, que encerrou recentemente a etapa de revisão do texto-base. O próximo passo será a realização de Audiências Públicas, onde a população poderá opinar sobre as mudanças. A Lei Orgânica é o conjunto de normas que regem o funcionamento do poder público municipal, e sua atualização é vista como essencial após mais de 30 anos em vigor.
Entretanto, em meio ao processo institucional, uma disputa política vem se intensificando entre dois grupos: o liderado pelo atual presidente da Casa, vereador Ivan Cordeiro (PL), e o que tem à frente o vereador e atual líder do governo na Câmara, Edvaldo Ferreira Júnior (PSDB). A divisão remonta à última eleição da Mesa Diretora, em que Ivan surpreendeu ao conseguir costurar apoios tanto da situação quanto da oposição, garantindo 15 votos e se elegendo presidente. Já o grupo de Edvaldo , que contava com o apoio de parte da base aliada da prefeita Sheila Lemos (União Brasil), apesar das articulações, não lançou uma chapa para a disputa e acabou votando em branco. A situação gerou um racha evidente entre os vereadores da situação, mas, até então, não confirmado por eles.
A nova Mesa Diretora é composta, além de Ivan Cordeiro como presidente, pelos vereadores Luciano Gomes (PCdoB) como vice-presidente, Hermínio Oliveira (PP) como 1º secretário, Cris Rocha (MDB) como 2ª vice e Dinho dos Campinhos (Republicanos) como 2º secretário e tem atuação para o biênio de 2025-2026.
Desde então, o clima na Casa é de embate constante. A proposta de proibição da reeleição para a presidência da Câmara, defendida por integrantes do grupo do vereador Edvaldo, acirrou ainda mais os ânimos. Um áudio vazado em grupos de mensagens revelou uma troca de acusações entre vereadores dos dois grupos, escancarando o desgaste nas relações internas e o tom acalorado das discussões. O que chama atenção é que tudo isso acontece faltando mais de um ano para as próximas eleições da Mesa Diretora.
A justificativa usada por quem quer impedir a reeleição é o princípio da alternância de poder. No entanto, há quem critique a “coerência seletiva” do argumento. Isso porque o grupo político da prefeita Sheila Lemos, que inclusive é apoiado pelo grupo que defende o fim da reeleição na Câmara, já está no comando do Executivo municipal há três mandatos consecutivos, e deve completar 12 anos no poder ao final de 2028.
A expectativa é de que o tema da reeleição entre na pauta das Audiências Públicas sobre a reforma da Lei Orgânica, abrindo espaço para que a sociedade também se manifeste sobre os rumos da presidência do Legislativo Municipal.
Enquanto isso, os bastidores seguem movimentados. As alianças estão em constante reorganização e os discursos em plenário e nas redes sociais revelam uma Câmara dividida, com vereadores mais preocupados em posicionar seus grupos para o futuro do que em construir consensos no presente. A disputa pelo poder na Casa Legislativa está apenas começando e promete capítulos ainda mais intensos nos próximos meses.