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Artigo| Quando a política era a cultura

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Por Nagib Barroso

Depois de muito tempo sem ninguém conseguir façanha parecida, cerca de 80 figuras representativas da cultura conquistense se reuniram no comitê do candidato Valdemir Dias. Sim, era um espaço de campanha eleitoral, de candidatos e de partidos, obviamente. O encontro foi organizado pelo mandato do vereador Valdemir Dias, que busca a sua terceiro eleição no legislativo.

Nada mais natural, a convivência entre a militância partidária e o ativismo em favor da cultura e de políticas públicas. Aliás, está aí um bom filtro para as pessoas avaliarem os partidos políticos: o que diz o estatuto sobre cultura? Claro! Se não tem a cultura como elemento estruturante da organização, como pretende transformar realidades? Manu militari, como fizeram os coronéis do nosso passado nem tão distante? Que cidade nos legou, a cultura do patrimonialismo que não enxerga limites entre público e privado? A cidade em que homens eram internados na maternidade? Onde o 13º dos servidores era parodiado como “décimo treiteiro”? A cidade do transporte público monopolizado por uma empresa familiar cujo lucro dependia da prestação de um péssimo serviço e sem fiscalização?

Vitória da Conquista não era só terra arrasada antes de 1996, mas os jovens e adultos-jovens com até 40 anos de idade, não viveram a cidade que tínhamos até meados daquela década. Vale a pena visitar estas últimas 3 décadas para compreender o que acontece quando a cultura entra na política a ponte se tornarem inseparáveis. Quando a internet não for suficiente, vale a pena visitar o Arquivo Público Municipal.  Descobre-se a cultura como aliada da saúde para combater a infecção hospitalar. Aliada da gestão, na hora de incorporar novas tecnologias na máquina pública. Mais que aliada, a cultura é irmã siamesa do esporte. Não pode depender de grandes estruturas para se promover a cultura, mas salas de estudos/ensaios/espetáculos são fundamentais. E construir esses equipamentos não substitui a presença da cultura em todo canto.

Não precisa fazer busca muito refinada no Google pra encontrar onde a cultura elevou Vitória da Conquista a ser destaque nacional, porque a cultura foi o cimento que construiu o Conquista Criança, que mudou a vida de muitos meninos, que mudaram as vidas de suas famílias e de outros meninos e meninas. Quando a cultura era a política em Vitória da Conquista, o principal não era o líder. Era o ser humano em primeiro lugar. Isso resume tudo: a política cultural era o próprio governo tecendo suas políticas sociais com base no diálogo e na transparência, uma cidade fiando uma cultura política nova. Cultura de confiar – de fiar junto.

Assim, sem propaganda e sem maioria na Câmara, respeitando a imprensa até nos seus abusos, uma nova cultura política se impôs à velha, do autoritarismo violento dos coronéis e do oportunismo velhaco das velhas raposas. Quando a cultura era a política que dirigia a cidade, a prata da casa tinha vez nos grandes eventos. Tinha vez no palco e na coxia, para crescer no contato com grandes nomes da cultura brasileira que desfilaram a cada edição do Natal da Cidade, no Forró Pé de Serra do Piripiri e no Festival da Juventude.

E não foi por coincidência, pode pesquisar quem duvidar, mas foi exatamente, precisamente, neste período que o ensino fundamental chegou a toda a zona rural, assim como a saúde, o PIB conquistense cresceu como nunca – inclusive quando a economia geral encolhia; uma política de habitação popular começou muito antes do Minha Casa Minha Vida dentro de uma lógica que organizava prioridades pensando da periferia para o centro.

Tem nada de coincidência! Foi neste período que Vitória da Conquista se destacou como um ponto fora da curva. Contrariando o destino da maioria das nossas cidades médias, Conquista melhorou como cidade, como lugar onde um aglomerado humano se organiza para viver e prosperar pelo trabalho.

Foi neste período que Vitória da Conquista começou a aparecer naqueles rankings das 100 melhores cidades brasileiras para viver e trabalhar, das melhores cidades para investir, das cidades com maior crescimento do IDH, das cidades com mais saneamento básico, das cidades com capacidade técnica e política para fazer a roda girar em benefício de toda a nossa gente.

Não foi coincidência! Chegamos a este patamar de desenvolvimento porque vivemos a experiência infelizmente rara de ver a cultura no comando. Se uma imagem vale mais do que mil palavras, a foto do encontro dos fazedores de cultura no comitê de um candidato diz muita coisa. Porque a cena não se repete na casa de quem manda os artistas correrem a sacolinha nas ruas.

Cultura na política qualifica a gestão pública. E como cenografia só funciona em cena, mas a vida é real e exige mais do que uma colorida estampa para uma gestão dizer que tem política de cultura.

O fundamental, Conquista já viu isso, é ter cultura na política.


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