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Artigo: O tombo do tribunal da lacração

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O Brasil, no apogeu dos “defensores do mundo melhor”, das lutas identitarias, viu chegar ao maior reality show do país uma cantora negra de músicas de protesto. Favas contadas. De inópino, os próprios concorrentes e grande parte do público anunciavam a vitória da rapper.

Como se não bastasse, a cantora “empoderada” aliou-se a um cantor ‘gratitude’, uma psicóloga “fechação” e um comediante “da quebrada”. A trupe dos lacradores estava formada e o favoritismo era inconteste. O prenuncio do sucesso deu lugar à soberba e a arrogância. Chegou-se a tal ponto, que além do monopólio das virtudes, o gabinete do ódio passou a julgar a negritude e a sexualidade das pessoas. Foram além, praticaram atos de xenofobia e tortura psicológica.

Mas a sociedade “tombou”. O país da impunidade e que em muitas oportunidades reservou o papel de ator principal para vilões, não aceitou a empáfia e o pedantismo, condenou o tribunal da lacração. Contudo, o “tombo” do tribunal da lacração não pode se restringir a um  episódio de programa televisivo. É indispensável que seja uma verdadeira mudança de rota da sociedade, um ponto de inflexão para um momento em que a impunidade não será mais tolerada, em que não se admitirá xenofobia, preconceito ou segregacionismo.

É essencial que a mudança de postura da sociedade seja efetiva no sentido de não aceitar discursos de monopólio das virtudes, absolutamente vazios e pueris.

O tribunal da lacração tombou no programa de realidade, mas é urgente que os gabinetes do ódio caiam na vida real. Não estamos, em hipótese alguma, sustentando que os participantes devem ser “cancelados” e perseguidos fora do programa. Longe disso. Tal conduta seria a reprodução do comportamento reprovado.

A mudança que o Brasil provocou no reality show não pode ficar presa nas telas da televisão.

Por Lucas Nunes, advogado.


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