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Definitivamente, os que hoje estão no poder central um dia serão convocados para os círculos do inferno de Dante.
São acendedores de centelhas que estão a incendiar o mundo.
As labaredas torram as nossas florestas centenárias, transformando-as em cinzas.
Os gabinetes do ódio abrem as porteiras para que as motosserras e os vaqueiros de chifres de ferro conduzam grileiros do presidente para invadir as terras Brasílicas de pindorama, queimando mato, gente gentílicas, deixando rastros de vírus e mercúrio.
Quem vai honrar a memória e a luta de Chico Mendes, Wilson Pinheiro, Irmã Dorothy Stang, Thiago de Melo e Pedro Casaldáliga?
As marés vermelhas se proliferarão e os nossos verdes mares terão ondas rubras, sem pescadores e sufistas.
Um novo Morte e Vida Severina não poderá ser escrito, mesmo que surja um outro João Cabral de Melo Neto, pois não haverá manguezais e restingas.
E um Josué de Castro, reencarnado, também não poderá denunciar as mazelas em que vivem os homens caranguejos.
Mariana, Sobradinho e os rios Doce e Paraopeba se tornaram cemitérios e leitos enlameados de resíduos minerais e sangradouros de lágrimas de órfãos de pais e mães e de viúvos e viúvas.
E nem (o) São Francisco eles respeitam.
Eta, Drummond, Guimarães Rosa e Osório de Castro, são tantas pedras no caminho e muitas veredas secas. Como fazer que suas águas continuem chegando ao oceano, dando sinais a viajantes de que ele é um Rio-Mar?
Valham-me Deus e São Jorge dos Ilhéus!
Louvadas lembranças das terras do sem fim de Jorge Amado e Adonias Filho, agora “encabruxadas” e sem mata atlântica.
E o campo branco de Elomar, de Euclides Dantas, Camillo de Jesus, Carlos Jehovah e Esechias, castigado desde a monarca?
Nele ainda haverá colheitas de milho e feijão plantados no pó? E Os umbuzeiros ainda darão frutos depois das chuvas das águas?
No país de Gonçalves Dias e Chico Buarque, em que palmeiras cantará o sabiá?
E se José de Alencar aqui estivesse, onde encontraria Iracema? E Carlos Gomes, em que Guarany se inspiraria?
Talvez, nem Luís Gonzaga se conformasse em não ver o galo campina mudar de cor e nem Patativa se consolaria em não mirar galhos floridos para os motes de seus versos.
Com certeza Afrânio Peixoto, Herberto Sales e Lindolfo Rocha chorariam para molhar com suas lágrimas o leito seco do Paraguassu!
Ah! Frans Krajcberg, que falta tu fazes para aumentar o coro dos artesãos que captam imagens que denunciam os “homicídios” contra a natureza.
E o trem caipira, sob a batuta de Villa-Lobos, segue, entre chamas dos tempos, os trilhos tortuosos da humanidade.
Eu tenho pena de morrer e deixar o mundo, mas não quero que o mundo se acabe quando eu aqui não mais estiver.
Começo da Primavera de 2020.
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José Raimundo Fontes é professor Universitário. Doutor em História Econômica (USP), Mestre em Ciências Sociais (UFBA), ex-Prefeito de Vitória da Conquista (2002/2008) e Deputado Estadual ( PT), desde 2011.