Giorlando Lima
O deputado José Rocha (PR) foi até a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, fazer uma média com o novo governo e buscar notícias que ajudem a manter o seu mandato de quase meio século (24 anos como federal e 16 como estadual). De lá, postou nas redes sociais que o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas virá à Bahia, em fevereiro, para inaugurar o novo aeroporto de Vitória da Conquista e um trecho de 79 quilômetros que está sendo reformado na BR 235 (estrada que começa em Sergipe e vai até o Pará, cortando os estados da Bahia, Pernambuco, Piauí, Maranhão, e Tocantins.
Rocha tem que fazer isso mesmo, ir atrás das boas notícias para a região que representa, mesmo que ele tenha obtido poucos votos – foram 21 votos em Jeremoabo, 28 em Remanso e 50 em Casa Nova, os principais municípios por onde passa o trecho da BR 235, que, segundo ele, o ministro vai inaugurar no próximo mês.
A notícia divulgada por José Rocha nos faz pensar na relação tempo e oportunidade na política. Quando o novo aeroporto teve a sua construção autorizada pela Secretaria de Aviação Civil (SAC), no dia 3 de junho de 2014, quem governava o país era a presidente Dilma Rousseff. Os recursos para a construção da pista de pouso e das obras estruturais do aeroporto foram liberados pela presidente, que também liberou os R$ 45 milhões que faltavam para erguer o terminal de embarque e desembarque, no dia 14 de janeiro de 2016, quatro meses antes de ser afastada pelo Senado, em face do processo de impeachment.
Desde então, o equipamento teve várias datas de inauguração anunciadas. Fevereiro é a mais nova. A depender de um dos pontos de vista da política, o tempo tirou o nome de Dilma da certidão oficial do aeroporto, assim como tirou de Michel Temer qualquer paternidade – a bem da verdade, ele nunca a reivindicou, por saber que não tem seu DNA na obra, apesar de alguns correligionários dele terem tentado forçar a barra ao atribuir ao ex-presidente o que ele não fez. Ministros, então, vários estiveram próximos de ter seu nome na placa de inauguração. Mas, quem vai entrar é o amigo de deputado José Rocha, Tarcísio Gomes de Freitas. E, por questões de cerimonial, de legitimidade e de oportunidade, vai estar lá o nome do presidente Jair Messias Bolsonaro.
Presume-se que o ministro Tarcísio vai fazer a “inauguração federal”. Mas, como se trata de um aeroporto estadual, a ser gerido sob concessão do governo da Bahia, é possível que o governador Rui Costa faça a “inauguração estadual”. Oportunidade em que se poderá fazer justiça ao senador eleito Jaques Wagner, que deu o passo inicial da obra quando era governador, e, quem sabe, Rui também faça uma homenagem à ex-presidente Dilma Rousseff, convidando-a para a abertura oficial do novo aeroporto, porque, pode-se ter motivos para rejeitá-la, falar mal dela, é da política, mas é impossível lhe tirar a maternidade do novo aeroporto de Vitória da Conquista. Isso é a história.