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ARTIGO: A “CULTURA” DO CANCELAMENTO

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Por Lucas Nunes

O Cancelamento não se confunde com a crítica, com um juízo de reprovação.
É a intenção de excluir a pessoa, por completo, do mundo. A bem da verdade,
o desejo genuíno pode até ser de excluir apenas do mundo digital, mas este
não é isolado do mundo real, pelo contrário, eles se relacionam cada vez com
maior intensidade e intimidade. Quem aniquila alguém no mundo virtual
também o joga também no limbo da vida real.
A sanha desvairada para assassinar moralmente é movida, primeiramente, por
pessoas tomadas pelo ódio e, em segundo momento, pelo efeito manada, a
reprodução de um comportamento sem ter a mínima consciência do que se
trata.
A prática do linchamento de reputações sempre ocorreu na grande mídia
brasileira. As maiores rede de comunicações de há muito que em questão de
segundos acusam, investigam e condenam. Sem qualquer possibilidade de
defesa. Não são poucos os episódios similares aos da Escola Base, em que a
imprensa, sem conhecimento e apressadamente, espancou reputações.
Entretanto, além da democratização da informação, que propiciou o acesso a
todos, as redes sociais trouxeram a possibilidade de que senão todos, muitos
produzissem informação e transmitissem opinião.
Aliado a esse processo de pulverização de produção de informações e opinião,
os programas de realitys shows trouxeram a possibilidade do público escolher
ganhadores, julgar a conduta dos participantes e excluir pessoas.
Logo se verificou que a melhor forma de influenciar os resultados dos
programas de realitys shows era através das redes sociais. A partir de então,
não bastava votar no participante preferido, era necessário aniquilar a
reputação dos demais, não apenas excluir os adversários do programa, mas
literalmente cancela-los.

O lixamento moral, que antes ocorria esporadicamente, em alguns veículos de
comunicação, passou a ocorrer milhares de vezes, diariamente, em todas as
redes sociais, extrapolando a esfera das votações de programas televisivos.
Os julgamentos são os mais sumários possíveis, por uma conduta, por uma
frase, por uma única palavra, muitas vezes descontextualizadas, sem conhecer
a pessoa, sem oportunidade de defesa, fazem verdadeiros assassinatos
morais. Todo mundo estabelece julgamento sobre tudo e sobre todos, apesar
de não conhecer verdadeiramente nada, ou muito pouco.
O contrário à cultura do cancelamento não é a cultura da isenção, a supressão
da liberdade de opinião. Longe disso. É não estabelecer julgamento
precipitados, é respeitar as diferenças, é garantir a oportunidade de
contraditório.
A oportunidade de defesa, em todos os âmbitos, é indispensável nos Estados
democráticos, o respeito às diferenças, inclusive aos defeitos, é essencial para
o desenvolvimento da sociedade.
A critica é saudável e pode ser muito construtiva, mas a cultura do
cancelamento é o casamento do ódio com a ignorância e esses são
absolutamente incapazes de construir qualquer coisa, senão mais ódio e mais
ignorância.

Lucas Nunes é advogado.


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